Título: Peso do ensino comprime o orçamento da classe média
Autor: Dantas, Cláudia
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/07/2008, Nacional, p. A8

Educação pesa no bolso da classe média, que paga caro para oferecer ensino de qualidade aos filhos. Os gastos com o ensino privado chegam a representar, em média, 9,11% do orçamento das famílias brasileiras, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ). De acordo com cálculos do JB, os pais têm um gasto mínimo, em média, de R$ 124 mil apenas com o pagamento de mensalidades durante os nove anos do ensino fundamental (dos 6 aos 14 anos) dos filhos. Isto, se o índice de inflação fosse zero durante o período e não houvesse um reajuste anual de preços. O cálculo tomou como base o custo médio de três tradicionais escolas do Rio e não incluiu cursos extras, como os de línguas estrangeiras. Em três anos de pré-escolar, o somatório da média das mensalidades a serem pagas supera o valor de um carro popular, quase R$ 33 mil. No ensino médio, com o mesmo período de anos, o desembolso chega a R$ 41 mil. No entanto, os gastos com colégios particulares, além dos extras ¿ como cursos de idiomas, atividades físicas, entre outros ¿ não impedem que os pais apertem o cinto. O professor e economista Salomão Quadros, da Fundação Getúlio Vargas, ensina que o caminho é olhar os gastos como investimento e não como despesa. Dar uma boa educação é ter uma visão de longo prazo. Vale abdicar de um bem-estar imediato para aumentar as chances profissionais do filho no futuro", sustenta o professor. Segundo Quadros, a saída é entender qual a prioridade. Os pais precisam reconhecer se os filhos têm potencial e convicção para enfrentar o desafio do ensino de excelência oferecido pelos colégios tradicionais. "Porque trata-se de uma despesa que nunca se esgota", diz Quadros. No estudo da FGV, voltado para conhecer o panorama das escolas particulares brasileiras, o professor Quadros identificou que só os gastos com as mensalidades escolares particulares representam 7,22% dos 9,11% do orçamento familiar consumidos com a educação do filho. Os outros 1,89% são direcionados para cursos extra-curriculares e material didático, entre outros itens. Segundo Quadros, as famílias chegam a consumir 47,83% do orçamento familiar com o ensino superior. O professor Marcelo Néri, do Centro de Políticas Sociais, também desenvolveu estudo similar e identificou que, na média nacional, o custo das universidades particulares representam quase o dobro do investimento do ensino fundamental. De R$ 166,76 pula para R$ 324,95. Néri concorda com o colega. Ainda que os custos sejam pesados para a classe média, "o investimento faz diferença no resultado final, no mercado de trabalho". "O salário sai de R$ 600 para R$ 1.700 para quem tem nível superior", ressalta Néri. No tradicional Colégio São Bento, os pais chegam a pagar R$ 1.600 por mês nos primeiros anos do ensino fundamental só para homens. O colégio foi eleito o melhor no Brasil pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). prendem inglês, espanhol e francês, têm aulas de laboratório, além de uma orientação assistida para quem estuda em tempo integral na escola. "O ensino daqui assemelha-se muito aos de outros bons colégios: boas salas de aula, bons professores, condições para os alunos", diz o reitor dom Tadeu Lopes. No Saint John, que cobra mensalidade média de R$ 850, a diretora pedagógica Diana Alencar conta que o diferencial é acrescentar às aulas lições de cidadania que permitem à criança ganhar autonomia tanto moral quanto intelectual no decorrer dos anos.