Título: Exportação antecipada de álcool garante equilíbrio ao mercado
Autor: Batista, Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/07/2008, Agronegócio, p. C8

Por duas semanas seguidas e em plena safra, os preços do álcool no mercado interno subiram. Nos últimos dias, as cotações recuaram um pouco mas estão pelo menos 20% acima dos preços negociados na mesma época do ano passado. O clima desfavorável para a moagem influenciou, mas a outra parte da explicação para a mudança de cenário está nas estatísticas da exportação do produto nos dois primeiros meses desta safra. Entre maio de junho, as usinas brasileiras enxugaram o mercado embarcando 735,48 milhões de litros de etanol, 86% mais que os 394,9 milhões do mesmo bimestre de 2007. Miguel Biegai Jr., analista da Safras & Mercado, avalia que a situação é reflexo da iniciativa de usinas e traddings de firmarem mais contratos de exportação antecipadamente, mesmo com preços mais baixos, até empatando com os custos de produção. "A maior parte desse álcool que está sendo embarcada agora foi negociada no ano passado, a partir de outubro", acrescenta Biegai. Naquele momento, o metro cúbico (m3) do hidratado para exportação foi negociado a US$ 430, valor que atualmente está US$ 530. No caso do anidro, os preços negociados estavam em torno de US$ 490, valor que hoje está por volta de US$ 590, elevação causada, principalmente, por problemas na safra de milho americana. Mercado dos EUA Por conta do cenário desfavorável à produção de etanol nos Estados Unidos, o Brasil elevou a meta de exportação de 3,9 bilhões de litros para 5 bilhões de litros na safra 2008/09, segundo a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). De acordo com estimativas da consultoria Bioagência, foram negociados até o momento em torno de 3 bilhões de litros em contratos para exportação. Os Estados Unidos devem importar - direta e indiretamente - pelo menos dois terços do volume total exportado pelo Brasil. Do total de 735 milhões de litros embarcados em maio e junho, 311,5 milhões de litros foram exportados diretamente aos Estados Unidos. As vendas indiretas - via países da América Central - somaram mais 370,6 milhões de litros, o que significa que o mercado americano consumiu 92% do álcool brasileiro no período. "Houve nas últimas semanas uma corrida dos importadores americanos pelo produto brasileiro", conta Biegai. Os preços do etanol nos Estados Unidos vêm aumentando consideravelmente desde maio deste ano, com a piora da situação das lavouras de milho no país. Saiu do patamar de US$ 2,40 o galão (3,785 litros) para US$ 2,86 na Bolsa de Chicago (CBOT), que referencia os preços nas regiões produtoras dos Estados Unidos. "A demanda americana fica aquecida até novembro. Em dezembro, o frio fica muito rigoroso e o consumo cai", acrescenta Biegai. A União Européia (Países Baixos) comprou 186 milhões de litros de etanol do Brasil nos dois primeiros meses da safra atual. A conseqüência desse volume elevado de exportação foi um equilíbrio maior da oferta no mercado interno, segundo o analista. "Agora, nos últimos dois meses, as usinas estão com parte da produção da safra comprometida com exportação. Se essa organização do setor em firmar contratos antecipados não tivesse ocorrido, o preço no mercado interno não estaria nos níveis que está hoje. As usinas perceberam que levar o álcool no porto para vender no mercado spot é complicado", avalia. Os preços do álcool hidratado encerraram a última semana cotados em R$ 0,7138, recuo de 1,29% em relação à semana anterior, no entanto, 23,49% acima dos R$ 0,5780 de 06 de julho de 2007, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). O anidro também recuou nesta semana (0,74%), fechando em R$ 0,8147, mas 22% maior que em 06 de julho do ano passado. Para Miriam Bacchi, pesquisadora do Cepea, essa queda é pontual e reflete o fato de ser início de mês. "Algumas unidades produtoras precisam, nesse período, fazer caixa para pagar fornecedores de cana e outras despesas. Por isso, acabam liberando mais produto no mercado. Além disso, a demanda está retraída, pois as distribuidoras estavam relativamente estocadas. Adquiriram volume maior de produto nas últimas semanas com receio de o preço subir mais", acrescenta Miriam, que também é professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).