Título: Alta de commodities beneficia setor de alimentos na bolsa
Autor: Silvia Rosa
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/07/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 7 de Julho de 2008 - A alta do preço das commodities no mercado global, pressionando a elevação dos níveis de inflação e do preço dos alimentos, deve beneficiar os papéis das empresas do setor de agronegócio listados na bolsa. Mesmo com cenário de instabilidade no mercado acionário, os papéis ordinários (ON) da SLC Agrícola acumulam forte valorização de 85,98% no ano, até o fechamento da última sexta-feira. A empresa atua na produção de algodão, milho, soja e café que apresentaram forte alta no primeiro semestre. Segundo a analista do setor de alimentos e agronegócio da Brascan Corretora, Denise Messer, o preço dos grãos tem atingido valores recordes no mercado internacional com o aumento da demanda global por alimentos e os problemas climáticos nos Estados Unidos, que contribuem para a queda dos estoques. Só o contrato futuro de soja por bushel, negociado na Bolsa de Chicago (Chicago Board of Trade - Cbot) subiu cerca de 79% no primeiro semestre e o contrato futuro do milho apresentou valorização de 42,4%. A corretora trabalha com preço-alvo de R$ 35,25 para a ação SLC Agrícola ON, potencial de valorização de 15% ante o fechamento da última sexta-feira. "Como esses papéis apresentaram forte valorização no primeiro semestre deste ano o potencial de ganho até final do ano deve ser menor, uma vez que seu o P/L (relação do preço sobre o lucro) já está elevado em torno de 33,4 vezes", afirma Denise. As ações ON da Renar Maçãs, que chegaram a apresentar perdas de mais de 60% no ano passado, também foram beneficiadas pelo aquecimento do mercado agrícola, e acumulam valorização de 35,47% neste ano, contra queda de 7,08% do Ibovespa, até a última sexta-feira. Para o analista de investimentos da corretora Planner, Peter Ping Ho, o preço dos alimentos deve continuar elevado, uma vez que os estoques estão muito baixos, no menor nível dos últimos 15 anos. "Há um desequilíbrio entre oferta e demanda por commodities agrícolas, impulsionado em parte pela produção de biocombustíveis", diz. Apesar de apresentarem uma elevação dos custos de produção, com o aumento do preço dos grãos, as empresas do setor de alimentos como Sadia e Perdigão também devem se beneficiar do cenário de alta das commodities. Para o analista da Planner, as companhias devem conseguir repassar o aumento de custos para os preços de seus produtos, além de ampliarem seu potencial de ganho com o aumento das exportações de frangos, que cresceram 55,5% este ano, até maio, comparado com o mesmo período do ano passado, somando R$ 2,73 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef). A Planner está com preço-alvo de R$ 13,59 para as ações da Sadia PN e de R$ 66,50 para os papéis da Perdigão ON, potencial de valorização de 33,5% e 102,8% respectivamente, ante o fechamento da última sexta-feira. "Apesar de bastante descontadas com a queda da bolsa em junho, o preço das ações da Perdigão ainda não reflete o ganho de receita com a aquisição da Eleva", afirma Ping Ho. A Brascan também está com recomendação de compra para os papéis da Perdigão ON, com preço-alvo de R$ 58,80. "A Perdigão optou pela diversificação das receitas com a entrada no mercado de produtos lácteos o que diminui sua exposição aos riscos ao embargo sanitário das exportações de carnes", afirma Denise. Da mesma forma, as empresas exportadoras de carne bovina também têm se beneficiado desse cenário. Os papéis dos frigoríficos JBS Friboi ON e Marfrig ON apresentaram valorização de 32,85% e 31,15% respectivamente no ano até a última sexta-feira. O analista do setor de alimentos da Link Corretora, Rafael Cintra, destaca que o Brasil é um dos poucos países com capacidade para aumentar sua produção de carne, com grande disponibilidade de terras e a oferta de grãos mais baratos que os do mercado internacional. "Apesar da alta dos custos, com o aumento do preço do boi no mercado interno, as empresas têm conseguido aumentar suas receitas com o crescimento das exportações, para novos mercados como Oriente Médio e Ásia, além de aumentar a venda de produtos processados de maior valor agregado", diz . A Link está com recomendação de compra para os papéis da Marfrig ON e Minerva ON, com preço-alvo de R$ 23 e R$ 20 respectivamente, o que garante potencial de valorização de 132,8% para este último. "Os papéis da Minerva estão bastantes descontados com a instabilidade no mercado de ações, mas acreditamos que a empresa deve apresentar bons resultados com ampliação das operações no mercado externo", afirma Cintra. O analista destaca que o frigorífico JBS Friboi também deve apresentar ganho de receita com as operações de sua unidade nos Estados Unidos. "O frigorífico JBS está menos exposto aos embargos sanitários às carnes brasileiras com unidades no mercado norte-americano e na Austrália."