Título: Taxa de produtividade desacelera
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/07/2008, Nacional, p. A5

A desaceleração da taxa de produtividade industrial aliada ao aumento de preço dos insumos e à perspectiva de reajustes salariais maiores pode se traduzir em nova fonte de pressão inflacionária no segundo semestre do ano. "No momento em que a produtividade não está crescendo tão forte há sérios riscos de repasse de preços", diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. A taxa de produtividade está em 4,2% nos 12 meses terminados em maio. Chegou a 4,6%, seu pico, em fevereiro passado. Esse nível é intermediário entre a maior taxa registrada nos últimos anos, de 6,6% em setembro de 2004 (quando houve mais produção e menos emprego), e 1,9% de junho de 2006. "O aumento de custo já está muito forte nos setores que dependem de commodities e a questão dos salários será uma pressão adicional nessa conta", afirma o economista, que estima queda da produtividade para algo entre 3,5% e 4%. "Se a taxa continuasse a crescer no ritmo anterior haveria espaço para acomodação na indústria". Se o aumento de salário acima da inflação fosse complementado pelo aumento da produtividade, isso não impactaria em grande escala o custo da empresa. "Como o uso da capacidade instalada está elevado e os investimentos feitos ainda precisam de tempo para maturar, fica mais difícil ampliar a produtividade", diz Thaís Marzola Zara, da equipe de economistas da Rosemberg & Associados. Sérgio Vale fez os cálculos da taxa de produtividade com base nos dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No quinto mês do ano, o número de horas pagas aos trabalhadores da indústria cresceu 1,6% na comparação com igual período de 2007. No acumulado de 2008, o aumento foi de 2,6%, abaixo do registrado no primeiro quadrimestre do ano passado (2,9%). Em 12 meses encerrados em maio, o indicador -em trajetória de alta desde setembro de 2006 - ficou estável na passagem de abril para maio (2,4%). O Instituto também apontou que o emprego industrial ficou praticamente estável frente ao mês anterior (-0,1%), na série livre de influências sazonais, porém, na comparação com igual mês de 2007, teve alta de 2,1%. Entre janeiro e maio, a elevação foi de 2,8%, abaixo do apurado nos primeiros quatro meses de 2007 (3,0%) e o acumulado nos últimos 12 meses (2,7%) repetiu a taxa de abril. Efeito SelicMuito embora aguarde essas pressões industriais altistas para os próximos meses, Vale diz acreditar que será possível evitar a disseminação inflacionária porque são esperados os efeitos do aperto monetário e do arrefecimento do preço das commodities no mercado internacional sobre a economia doméstica.A economista da Rosemberg concorda. Porém, ressalta que, em uma leitura do restante da economia, um setor que preocupa bastante é o de serviços. Primeiro, porque representa 65,3% do Produto Interno Bruto (PIB) ante participação de 28,5% da indústria e 6,3% do agronegócio, portanto, a disseminação pode ser maior. Segundo, porque não há como medir nesse setor a taxa de produtividade, o que deixa a inflação quase como uma incógnita. "O setor de serviços é um problema, ainda mais porque a pressão por salários maiores pode fazer surgir efeitos inflacionários", afirma Thaís. Com a desaceleração econômica, provocada pela alta da Selic, os setores que mais vão sentir são o que mais expandiram sua produção para o mercado interno. Em outras palavras, calçados, têxtil e vestuário voltam à berlinda. "Se aumenta o gasto com comida e reduz o crédito, sobra menos para comprar sapato", diz o economista-chefe da MB Associados.