Título: PF desmantela máfia de crimes financeiros
Autor: Santos, Gilmara; Ribeiro, Henrique
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/07/2008, Direito Corporativo, p. A8

Uma organização criminosa que estaria fraudando o mercado financeiro brasileiro - e que teria exercido influência até mesmo nas mudanças na taxa de juros dos Estados Unidos - foi deflagrada ontem pela Polícia Federal (PF) de São Paulo. A fraude seria protagonizada por dois grandes grupos, cujos líderes seriam o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, e o investidor Naji Nahas. Ambos foram presos temporariamente, assim como o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, acusado de ser o principal cliente de Nahas. Pitta receberia dólares do exterior sem comprovação da origem. A ação da PF, batizada de Operação Satiagraha (que significa resistência pacífica), mobilizou 300 agentes para o cumprimento de 24 mandados de prisão e 56 de apreensão nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Distrito Federal. As investigações foram iniciadas há quatro anos na esteira da CPI do Mensalão, visando combater desvios de recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo o delegado da PF Protógenes Queiróz, coordenador da investigação, as organizações criminosas de Dantas e Nahas "interagiam e convergiam em negócios pontuais". Dantas é acusado de utilizar o Opportunity para fraudar o mercado financeiro e de utilizar empresas de fachada para desviar verbas públicas. "O fundo do Opportunity movimentou US$ 2 bilhões no paraíso fiscal das Ilhas Cayman entre 1992 e 2004 e foram praticadas diversas atividades fraudulentas nas operações, como falsificação de balanços", acusa o procurador Rodrigo de Grandis. Dantas responderá por gestão fraudulenta, evasão de divisas, formação de quadrilha e corrupção ativa. Participariam de seu grupo mais dez pessoas: Verônica Dantas (irmã), Carlos Rodemburg (vice-presidente do banco Opportunity), Daniele Ninio, Arthur Joaquim de Carvalho, Eduardo Penido Monteiro, Dorio Ferman, Itamar Benigno Filho, Norberto Aguiar Tomaz, Maria Amália Delfim de Melo Coutrin e Rodrigo Bhering de Andrade. Informações privilegiadas Já Nahas utilizaria indevidamente informações privilegiadas para atuar no mercado financeiro e será indiciado por lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha e operação de instituição financeira sem autorização. "Nahas realizava uma operação financeira particular, era uma espécie de banco para a retirada de altos valores", explica de Grandis. O investidor seria auxiliado por Fernando Nahas (filho), Maria do Carmo Antunes Jannini, Antonio Moreira Dias Filho, Roberto Sande Caldeira Bastos e os doleiros Carmine Enrique, Carmine Enrique Filho, Miguel Jurno Neto, Lúcio Bolonha Funaro, Marco Ernest Matalon e Pitta, que teve gastos não comprovados fornecidos para Nahas. Mensalão O esquema de Dantas e Nahas foi descoberto a partir das investigações sobre o escândalo do mensalão, pelo qual deputados venderiam seus votos em troca de pagamentos mensais. Segundo de Grandis, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, houve menção de evasão de divisas das empresas de telecomunicações Telemig e Amazônia Celular para as contas do publicitário mineiro Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão. Ambas pertencem a Daniel Dantas, que passou a ter suas atividades investigadas pela PF, possibilitando a descoberta das irregularidades. Influência O elo de Dantas com o poder, segundo o procurador Grandi, seria o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado federal pelo PT e Guilherme Sodré atuavam junto ao Executivo e ao Parlamento brasileiro. A prisão de ambos foi pedida pela PF, mas o juiz federal Fausto de Sanctis, da Sexta Vara Cível, negou. Prisão de DantasO banqueiro Daniel Dantas foi preso por volta das 6h30 de ontem em seu apartamento em Ipanema. O banqueiro foi encaminhado para a sede da Polícia Federal, no Centro do Rio, onde se encontrou com seu advogado Nélio Machado. De acordo com a assessoria de imprensa da PF de São Paulo, o bancário não prestou nenhum depoimento na sede carioca. Para o advogado, a prisão do banqueiro é infundada. Em 26 de abril, a Folha de São Paulo divulgou matéria que apontava a participação de Dantas, por meio do banco Opportunity, no processo de aquisição da Brasil Telecom pela Oi. De acordo com o seu advogado, desde então o pedido de acesso às informações do inquérito que teria sido instaurado foi negado. Prevendo que poderia haver um processo contra Daniel Dantas, o advogado entrou com pedido de habeas-corpus, mas até agora o pedido não foi julgado. No início da tarde, Dantas deixou a sede da PF no Rio e foi para o aeroporto Santos Dumont, de onde seguiu para São Paulo. O comboio de sete carros da PF e um microônibus acompanhou o banqueiro. Defesa Procurados por esse jornal, os advogados de Pitta e Nahas não se manifestaram. Ma em entrevista ao site G1, eles afirmaram desconhecer o teor das acusações.