Título: FIDC ganha espaço com ações em baixa
Autor: Rosa, Silvia
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/07/2008, Finanças, p. B1

O mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios está aquecido neste ano, impulsionado pela retração do mercado de ações. Só os investimentos em cotas de FIDCs registraram captação líquida de R$ 16 bilhões até junho deste ano, aumento de 488% em relação ao registrado no mesmo período do passado, de R$ 2,72 bilhões, segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Para o sócio-gerente da Oliveira Trust Alexandre Lodi, a crise no mercado de crédito imobiliário nos Estados Unidos não afetou esse segmento, que vem apresentando demanda crescente desde o início do ano passado. Com taxas atrativas, em torno de 106% a 110% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), os FIDCs têm tido uma grande demanda por parte dos fundos de investimento, que têm aumentado as aplicações em papéis de crédito privado para alavancar a rentabilidade de suas carteiras. "A aplicação em cotas de FIDC funciona como um porto seguro para os investidores em momentos de instabilidade, ao oferecer alta rentabilidade com baixo risco de crédito e baixa volatilidade", afirma Antônio Bosco, diretor de operações da BER Capital. Os fundos também têm apresentado grande demanda por parte dos investidores estrangeiros, principalmente de bancos de investimento que têm comprado a carteira de FIDCs das gestoras. Lodi destaca que os investidores estrangeiros têm grande interesse por FIDCs lastreados em precatórios - títulos de dívidas que pessoas físicas e jurídicas têm com governos resultantes de cobranças judiciais - que oferecem melhor rentabilidade, além de fundos lastreados em recebíveis do agronegócio. Para o diretor da Integral-Trust, Carlos Fagundes, o aumento do interesse por investimento em FIDC está associado à consolidação do produto no mercado, que deixou de ser concentrado em estruturações de recebíveis do setor financeiro, e hoje está mais diversificado com a entrada de empresas vendendo sua carteira de recebíveis. "As empresas, principalmente de porte médio, têm utilizado o FIDC como instrumento alternativo para a captação de recursos no mercado de capitais, principalmente nesse momento em que a abertura de capital se tornou menos viável com a instabilidade do mercado de ações", afirma. Só neste ano, foram aprovadas até o dia 7 de julho 55 ofertas de FIDC, que somaram R$ 5,73 bilhões, incluindo as operações com dispensa de registro, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Diversificação de setor Antes concentrado em operações lastreadas em recebíveis emitidos pela instituições financeiras, como a securitização da carteira de crédito consignado, financiamento de veículos, capital de giro e desconto de duplicatas, esse mercado já começa a ser acessado por novos setores como do agronegócio e por empresas do segmento de água e esgoto e transporte, que securitizam suas receitas futuras com prestação de serviços . "As empresas do setor comercial e industrial têm aumentado a utilização desse instrumento", afirma Fagundes. Segundo ele, para as empresas de porte médio o FIDC é muitas vezes uma porta de entrada para o mercado de capitais, pelo qual ela consegue emitir um volume considerável de recursos com instrumento de alto `rating¿, e por isso, muitas vezes mais barato que uma debênture ao requerer um spread menor. Outra vantagem é que os fundos lastreados em recebíveis do segmento de middle market têm alcançado prazos médios em torno de quatro a cinco anos, muito semelhante ao oferecido pelas debêntures. Além disso, de acordo com Bosco, a estruturação de um FIDC tem como objetivo melhorar o perfil das contas empresa, ao permitir a venda da carteira de crédito sem obrigação, que deixará de contar no balanço. "É uma forma de as empresas reduzirem o risco de suas carteiras, permitindo a liberação de capital de giro", afirma Bosco.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1