Título: CNI revisa projeções de expansão econômica de 2008
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/07/2008, Nacional, p. A6

O ritmo de crescimento da inflação surpreendeu no segundo trimestre e fez a Confederação Nacional da Indústria (CNI) revisar para baixo a projeção de expansão econômica neste ano, de 5% para 4,7%. O novo dado consta do Informe Conjuntural, divulgado ontem. O arrefecimento nas previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) decorre também da trajetória de alta da taxa Selic. Porém, o economista-chefe da confederação, Flavio Castelo Branco, disse que os sinais de desaceleração da economia, no momento, estão mais atrelados aos picos inflacionários - que foram mais intensos no segundo trimestre - que corroem a renda do consumidor. E desperta o sinal amarelo na decisão dos investimentos na produção. "A intensidade do aumento da inflação neste segundo trimestre surpreendeu um pouco", disse o economista, em entrevista à Gazeta Mercantil. Os setores que devem puxar a economia para baixo são aqueles que já estão sendo prejudicados pela depreciação do dólar ante o real. Os têxteis, calçados e bens de consumo mais leve que têm dificuldade de concorrer com os importados, avaliou o economista. A inflação mantém-se em alta, mesmo diante do processo de aperto monetário, e já se encosta no limite máximo da meta de 6,5% estipulada este ano pelo governo. A CNI revisou a projeção do IPCA _ usado pelo governo para estabelecer as metas anuais de inflação _ para 6,4%, um forte avanço em relação à previsão de março, quando indicava 4,7%, ainda um pouco acima do centro a meta de 4,5%. Assim como outros economistas do mercado e instituições, a CNI reitera no relatório que as principais fontes primárias da inflação são provenientes do mercado internacional, sobretudo dos preços das commodities. Porém, diz a CNI, tal cenário coincide com o aquecimento do consumo interno beneficiado pelo aumento do crédito e da massa salarial alicerçado pela criação do emprego. Isso eleva o consumo na praça. A CNI acredita que a taxa de desemprego chegará em dezembro em 6,7%, perfazendo uma média anual ao redor de 8%. A demanda elevada desperta a atenção do Banco Central que deve manter o processo de aperto monetário para "dificultar" que os atuais preços externos contaminem os do Brasil. A CNI já aposta na desaceleração da demanda neste semestre. "A principal pressão da inflação vem do mercado internacional, mas a demanda interna forte favorece o espraiamento do aumento dos preços no País", argumentou Castelo Branco, demonstrado certamente um apoio à atual política do Banco Central. "A política monetária é para dificultar que os preços internos sejam contaminados pelos externos. E evitar que a inflação seja elevada para outro patamar (acima do teto da meta)", avaliou. No Informe Conjuntural de julho, a CNI diz que o compromisso do Governo Federal de elevar a meta do superávit primário para 4,3% do PIB em 2008, ante 3,8%, representa uma ajuda importante para a redução dos gastos públicos e conter um pouco a demanda. Neste caso, argumenta, o governo está dividindo com o Banco Central o "ônus de combater à inflação", via aumento do juro. A CNI lembra que a política monetária leva um certo tempo para surtir efeito na economia. Por essa causa, a instituição acredita que os efeitos da inflação poderão ser mais sentidos no próximo ano. "Dificilmente a economia terá uma performance elevada em 2009. O crescimento poderá ser menor do que em 2008 (4,7%)", avalia o economista. Entretanto, ele garante que o ciclo de crescimento econômico do Brasil é vigoroso, não será abortado pela política monetária e descartou o chamado "vôo de galinha".