Título: Remessas fazem Ipea rever para cima suas projeções de déficit
Autor: Severo, Rivadavia
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/07/2008, Nacional, p. A4

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para cima a previsão de déficit em transações correntes para este ano, o que colocaria fim a um ciclo superavitário que vinha ocorrendo desde o segundo semestre de 2002, sustentado pela balança comercial favorável. A principal causa apontada pelo instituto é o grande volume de remessas de lucros de empresas transnacionais para tapar o buraco causado pela crise imobiliária norte-americana. As transações correntes positivas, junto com a queda da dívida pública, foram fundamentais para aumentar a credibilidade internacional do País e atrair capital estrangeiro. O Ipea calcula que a saída de capital deve superar a entrada entre US$ 27,5 bilhões e US$ 34,5 bilhões. Em março, o instituto apostava em um déficit de US$ 11,5 bilhões. A estimativa está acima da projetada pelo Banco Central, que prevê o rombo em US$ 21,5 bilhões, e do próprio mercado, que na última pesquisa do boletim Focus projeta um déficit de US$ 23,57 bilhões. No acumulado do ano, medido até maio, o resultado do déficit externo está em US$ 14,7 bilhões, acima dos US$ 11,5 bilhões projetados pelo Ipea para o período. Remessas aceleradas O economista do instituto, Leonardo Mello de Carvalho, disse que a revisão foi necessária porque houve uma aceleração nas remessas de capital das empresas estrangeiras, para compensar a crise das hipotecas no mercado dos Estados Unidos que causou escassez de liquidez internacional. "É um efeito adicional da crise externa." Carvalho também cita a apreciação cambial no Brasil como fator que ajudou a elevar essas remessas. "A depreciação do dólar aumentou o valor relativo de ingressos para as empresas transnacionais", aponta ele. Também entra na análise do instituto a expansão da atividade econômica. A projeção do Ipea para o segundo semestre é que o déficit das transações correntes deve desacelerar por conta do menor volume das remessas de lucros, da contenção da atividade econômica e da manutenção do câmbio nos atuais patamares. As remessas de lucros reduziriam o ritmo, observando uma tendência sazonal, já que historicamente as empresas diminuem as remessas no segundo semestre. Enquanto que a atividade econômica se contrairia por causa das medidas econômicas que o governo vem tomando para reduzir a liquidez e combater a inflação, o que deve surtir efeitos no terceiro e quarto semestres. A previsão leva em conta ainda, um câmbio estável nos atuais patamares, o que também diminuiria as remessas de capital na segunda metade do ano. Balança comercial Também pesou para a revisão do instituto a previsão de diminuição do superávit da balança comercial de 2008. O Ipea estima que o saldo deve ficar entre US$ 21,6 bilhões e US$ 25,1 bilhões. A previsão anterior era de uma variação positiva entre US$ 23,8 bilhões e US$ 27,3 bilhões. O Ministério da Fazenda, no entanto, relativiza a importância desse déficit. Segundo afirmou o futuro secretário de política econômica do ministério, Nelson Barbosa, que assume o novo posto no dia 21 de julho, grande parte desse déficit é por causa do volume de importações que estão sendo puxadas por máquinas e equipamentos. Segundo Barbosa, isso mostra que existe investimentos no País e que essas compras são de bens que irão impulsionar a indústria. A secretaria é responsável por formular as diretrizes macroeconômicas da pasta.