Título: Ação do Copom e aperto na liquidez serão evidenciados
Autor: Filgueiras, Maria Luíza
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/07/2008, Finanças, p. B1

O desempenho do mercado financeiro no Brasil e no mundo é pautado hoje por duas frentes: inflação e commodities. Responsáveis pela volatilidade atual nas bolsas mundiais e inclusive na Bovespa, os dois vetores estão sendo acompanhados de perto pelos executivos de bancos, agências de riscos e investidores e a resposta, no Brasil, foi o enrijecimento do discurso do Banco Central sobre o controle da inflação e a posição do governo federal de fazer da crise de abastecimento de insumos básicos uma grande oportunidade de crescimento. Ontem, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, acenou para novos aumentos da taxa básica de juros e freios mais potentes neste segundo semestre, já que o teto de 6% foi levemente ultrassado em junho (6,06% no acumulado de 12 meses) mas o BC quer retornar ao centro da meta de inflação, de 4,5%, já em 2009. A estimativa no mercado era de que esse índice fosse o alvo de 2010. "A postura de política monetária nas economias maduras se alterou em direção mais contracionista. Seja por conta da elevação dos preços de matérias-primas ou pela pressão da demanda sobre a capacidade produtiva, a inflação se encontra em forte aceleração em todo o globo e, no Brasil, as pressões da demanda doméstica têm tido papel relativamente mais importante na aceleração inflacionária", destacou Meirelles em evento da organização Movimento Brasil Competitivo, em São Paulo. "Na maioria dos países emergentes, a política monetária tem se voltado para o combate à inflação, por meio da elevação de taxas de juros que objetivam moderar o ritmo de expansão da demanda." Ele lembrou que as indicações do BC no início do ano sobre um possível avanço da inflação surpreenderam muitos analistas, mas que a antecipação de medidas pelo órgão foi fundamental para manter a economia sob controle, com ação preventiva do Copom de evitar uma trajetória inflacionária volátil. "As decisões recentes do Comitê de Política Monetária, cuja atuação tem se caracterizado pela tempestividade, se inserem nesse contexto. Seus efeitos sobre a atividade e a inflação, potencializados pelo aperto na liquidez em curso desde os primeiros meses do ano, são cumulativos e serão evidenciados ao longo dos próximos trimestres", disse. O controle da expansão exagerada do crédito continua na mira do governo. Segundo Paulo Bernardo Silva, ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, o crescimento deve ter uma relação mais próxima às taxas de expansão do Produto Interno Bruto (PIB). "O crescimento do crédito foi de 32% em 2007, mudando de participação de 21% para 35% no PIB. Com um crescimento nacional de 5% este, seria saudável um crescimento do crédito de 12%", avaliou. Isso significa frear os empréstimos e financiamentos no segundo semestre, já que a desaceleração pôde ser notada apenas no último mês. No que diz respeito ao cenário internacional, a volatilidade também deve continuar até a estabilização da economia norte-americana. Segundo Brian O¿Neill, secretário assistente do Tesouro Nacional dos Estados Unidos para o Ocidente, serão pelo menos outros 18 meses de incertezas. "Estamos em um período prolongado de ajuste que vai perdurar este ano e no próximo. A economia americana está extremamente resiliente", disse O¿Neill. Mesmo com a pressão inflacionária, alta de juros e crédito acelerado, o Brasil não corre o risco de sofrer uma crise semelhante à americana, para Daniel Darahem, executivo à frente do JPMorgan no Brasil. "Não estamos nem perto de uma crise como a americana, mesmo porque nossas hipotecas representam 3% do PIB e nos Estados Unidos esse volume é de 100% do PIB. O que pode afetar o mercado brasileiro é uma reversão da demanda de commodities, mas não vejo porque isso aconteceria com as elevadas taxas de migração do campo para as cidades na Ásia e mesmo pelos índices no mercado interno", afirmou. Paulo Bernardo citou relatório do Banco Mundial que indica continuidade de alta dos preços das commodities pelos próximos 10 anos. "Afeta o padrão de vida das pessoas, mas para o Brasil é uma grande oportunidade. Temos que nos preparar para dobrar a produção em 8 a 10 anos", disse. Rodolfo Fischer, vice-presidente do Itaú, ressaltou que a saída de capital estrangeiro registrada no último mês não é preocupante. "O investidor estrangeiro se recolhe de todos os mercados para entender melhor o médio prazo, mas a tendência é que veja a oportunidade de ganhar market share no Brasil", ponderou.(