Título: Separados na disputa local, os aliados esperam definição de Lula
Autor: Nascimento, Sandra; Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/07/2008, Politica, p. A10

A sopa de letrinhas que compõe a base de apoio partidária do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - dentre as 20 legendas com representação na Câmara, pelo menos 14 apóiam o governo - está espalhada pelo País sem a menor cerimônia pela aliança nacional. A formalização das chapas municipais junto aos tribunais eleitorais, encerrada no último dia 6, deixa claro a prevalência dos interesses locais sobre as disputas levadas a cabo em Brasília. Separados, partidos aliados caminhando junto a adversários, enquanto a oposição racha a ponto de deixar as lideranças nacionais prevendo o pior para os próximos meses. São Paulo e Minas encabeçam a lista dos casos mais emblemáticos. No primeiro, as principais vozes contra o governo Lula estão em lado opostos e, apesar dos panos quentes, o tucano Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) não hesitam em trocar farpas. Por ora ganha com isso a candidata do PT, a ex-prefeita Marta Suplicy que, com 38% das intenções de voto, segundo o Datafolha, lidera a pesquisa. O ex-governador de São Paulo vem na sequência, com 31% e Kassab, 13%. O ex-prefeito e atual deputado federal Paulo Maluf (PP) ficou em quarto, com 8% dos votos. Na capital paulista Kassab é quem reuniu o maior número de legendas. Estão com eles os "governistas" PMDB - embora, neste caso, liderada por Orestes Quércia, essa ala do partido se considere oposição a Lula -, PR, PSC e PRP. Também fugiram dos petistas o PTB, o PSL, o PSDC e o PHS, que foram se abrigar no ninho tucano. A Marta coube o PTN e o chamado "bloquinho de esquerda": PSB, PCdoB, PDT e PRB. Já em Belo Horizonte PSDB e PT trabalham lado a lado pela eleição de Márcio Lacerda, do PSB, numa aliança não engolida ainda por muitos petistas locais.(Ver matéria nesta página). Neste ano estão sendo disputados 5.562 cargos de prefeito, com igual número de vices, e as cadeiras para vereadores estão em torno de 52 mil, para um contingente de 400 mil candidatos, segundo estimativa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que ainda analisa os pedidos de registro. Em meio a disputas cada vez mais acirradas, com limitações impostas tanto pela Justiça Eleitoral quanto pelo caixa, o apoio de lideranças políticas ilustres é fundamental. A maior delas, o presidente Lula. Antes do início da campanha, ele chegou a afirmar que não subiria no palanque nas cidades onde poderia melindrar os partidos da base. É grande a expectativa para ver o que ele fará de fato, assim que voltar do exterior. Caso ele se decida pelo contrário e suba em mais de um palanque na mesma cidade, sua influência poderá ser mínima ou nula, na avaliação de analistas. Segundo o analista da Arko Advice, Cristiano Noronha, a bênção do presidente, neste cenário, não deve ter muito impacto sobre o eleitorado. "Se for confirmada uma enxurrada de candidatos lembrando o presidente Lula, o candidato pode ver esta relação como nula", diz Noronha. Esta transferência de votos seria determinante, diz, se ele assumisse a campanha e pedisse apoio para um único candidato. É provavelmente esse o caso de São Paulo, Curitiba, Goiânia e Belo Horizonte. Candidato parlamentar Sem a necessidade de se desvincular, o candidato parlamentar ou ocupante de cargo executivo também tem uma vantagem considerável diante de seus adversários. Com isso, ele tem a disposição verba para realizar pesquisas, a tribuna para fazer discursos, recursos para gastos com combustível no estado. "Isso, sem dúvida, fortalece qualquer campanha", diz Noronha. O fato de estarem presentes na Câmara e no Senado também proporciona um reforço no caixa dos parlamentares candidatos. O diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, destaca que como eles já passaram por um aval das urnas, têm mais credibilidade entre os empresários que resolvem apostar na campanha. "Eles geralmente têm financiadores bem mais generosos", diz o diretor. Ex-governador do Amazonas e ex-prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB/PP), candidato à prefeitura de Manaus, apostam no fato de já ter ocupado cargos de grande exposição, a exemplo também da candidata Solange Jurema (PSDB/PPS), de Maceió, ex-ministra do governo de Fernando Henrique Cardoso.