Título: Expectativa de alta de preço pode reduzir busca por crédito
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/07/2008, Nacional, p. A4

A percepção real da alta dos preços no supermercado e a expectativa de maior inflação futura podem deixar o brasileiro, em especial o de renda baixa, mais receoso para tomar crédito neste ano. A afirmação é de Maria Andrea Murat, gerente de atendimento da LatinPanel. "A expectativa de inflação deixa o consumidor inseguro para contrair financiamentos. Neste ano, os domicílios estarão mais comedidos para se endividar", diz. A análise está baseada no fato de que, ao ter de gastar mais para fazer suas compras, sobra menos dinheiro para outros fins. E estudo divulgado ontem mostra que os produtos básicos ficaram em média 9% mais caros nos primeiros quatro meses deste ano na comparação com igual etapa de 2007. Apenas para referência, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial do regime de metas de inflação do País, registrou variação de 2,08% no quadrimestre e acumulou alta de 5,04% em 12 meses terminados em abril. São considerados básicos os itens de uso diário das famílias, como margarina, óleo, extrato de tomate, açúcar, leite, pão, farinha, papel higiênico e desodorante. Do total das 65 categorias auditadas, 30 apresentaram reajuste acima da média da inflação, 12, na média, e 23, abaixo. No efeito extremo dos aumentos, 880 mil de um total de 44 milhões de domicílios já deixaram de consumir. Maria Andrea ainda classifica o movimento de recuo como sutil. Na sua avaliação, quando existe aumentos de preços como agora, os domicílios reduzem a quantidade comprada por causa da elevação do gasto, mas não abandonam o consumo. Em um segundo momento, complementa, os produtos supérfluos são de fato abandonados. "Porém, se essa situação de alta perdurar, pode haver perda de compradores. No entanto, esperamos que as pessoas continuem comprando só que em menor quantidade". E, de fato, o estudo revela que preços maiores não refletiu no costume de freqüência mensal do brasileiro ao ponto-de-venda. No entanto, o tíquete médio passou de R$ 10,48 para R$ 11,06 na comparação entre os primeiros quadrimestres de 2007 e 2008. "As pessoas estão gastando mais e levando menos itens para casa", ressalta a gerente. Cobertor curto Nem mesmo os reajustes salariais foram suficientes para fazer frente às despesas maiores. De acordo com a gerente, houve aumento de 2,8% na renda das famílias, um percentual muito inferior às altas de preços apuradas pelo LatinPanel. No ranking geral, as maiores altas ficaram com o leite em pó (37%), óleo vegetal (35%), leite condensado (22%), leite pasteurizado (17%) e adoçante (16%). O estudo mostra alta de preços em todas as regiões do País e, consequentemente do gasto médio dos consumidores, de 4% em São Paulo a 8% na grande Rio de Janeiro. A LatinPanel acompanha o consumo semanal de 8,2 mil domicílios, o que representa 91% do potencial de consumo e 82% da população domiciliar brasileira.