Título: Selic em alta reforça críticas a leilões do BC
Autor: Carvalho, Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/07/2008, Finanças, p. B1

A expectativa de que o Banco Central (BC) promova novas altas no juro para conter a inflação vem realimentando as críticas em relação à política de acúmulo de dólares adotada pela instituição. Selic mais alta atrai dólares para o Brasil, o que derruba a cotação da moeda, depreciando os valores adquiridos pelo BC tanto no mercado à vista, para as reservas, quanto no mercado futuro via contratos de swap cambial reverso. O custo elevado das operações tem sido responsável por tingir de vermelho o balanço do BC nos últimos três anos. Os benefícios do acúmulo de dólares pelo BC - menor vulnerabilidade externa do País - começam a ser questionados na medida em que o custo de manutenção desta estratégia cresce. No ano passado, o BC registrou um prejuízo de R$ 47,5 bilhões, um forte crescimento em relação aos R$ 13,3 bilhões de prejuízo em 2006 e aos R$ 10,5 bilhões no vermelho em 2005. O último resultado positivo do BC foi em 2004, com R$ 2,5 bilhões. O próprio BC reconhece o custo elevado das compras de dólares para as reservas e via swap cambial reverso, contratos fechados na BM&F, mas avalia que os benefícios compensam. A existência de benefícios intangíveis com o acúmulo de ativos em dólares é ponto pacífico, mas há dúvidas sobre até qual o limite para a estratégia cambial do BC. "É importante a compra de dólares para as reservas. Isso reduz a vulnerabilidade do País, mas o nível atual já é bom para o Brasil", afirma Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). As reservas do País estão em sua máxima histórica, de US$ 203 bilhões. Na opinião de parte do mercado não seriam necessárias, portanto, compras adicionais de moeda para as reservas, que no ano já subiram 12%, ou US$ 22,9 bilhões. A compra de dólares para as reservas pesa nas contas do BC de duas formas. Toda vez que o dólar se desvaloriza, as reservas perdem valor. Além disso, o BC precisa retirar da economia os reais que injetou ao comprar dólares - esterilizar os reais - e nesse processo paga ao mercado juros próximos da Selic, hoje em 12,25%. Já o dinheiro acumulado nas reservas tem uma remuneração muito menor, inferior a 5%. Mas as principais críticas feitas ao BC se referem aos polêmicos leilões de swap cambial reverso, que funcionam como uma compra de dólares no mercado futuro. O swap cambial foi introduzido pelo ex-presidente do BC Armínio Fraga em 2002. Na época, a operação funcionava como uma venda de dólares no mercado futuro para evitar que a cotação da moeda disparasse. Anos depois, em 2005, a situação se inverteu e o dólar baixo começou a incomodar. O BC voltou a ofertar leilões de swap cambial, só que agora reversos. Neste tipo de contrato, o BC paga ao investidor a variação do juro em um determinado período e recebe a variação cambial. Na prática, o BC perde dinheiro sempre que o juro sobe e o dólar cai, como ocorre agora. Só neste ano, a Selic subiu de 11,25% para 12,25% e novas elevações devem ser necessárias. Já o dólar acumula queda de 10%, no quinto ano consecutivo de baixa. "Houve uma mudança no ciclo da política monetária, como o retorno do aperto monetário, e neste momento os leilões para rolagem de swap reverso poderiam ser suspensos", defende Freitas, da CNC. "É claro que, com o juro em alta, a rolagem dos contratos não é um bom negócio, mas é preciso lembrar das conseqüências do fim dos leilões de swap", pondera Jorge Knauer, gerente de câmbio do banco Prosper. Só no primeiro semestre, o BC realizou leilões de swap reverso no valor de US$ 9,7 bilhões, rolando quase a totalidade dos vencimentos no período. Neste segundo semestre, vencem mais US$ 6,6 bilhões. "Se é ruim rolar, é muito pior não rolar os contratos", diz Knauer. A não rolagem dos contratos significaria, na prática, uma venda de dólar no dia do vencimento. "Se o BC optar por não rolar um vencimento, em um único dia o dólar pode cair a R$ 1,50", afirma Mario Cebrian, responsável pela área de câmbio do Standard Bank. "O problema do swap reverso começou lá atras, em sua criação, quando o BC acreditava que poderia influenciar mais na cotação, o que não é o caso. Hoje, a instituição se colocou em uma posição difícil de sair, não tem alternativas", explica Cebrian. A probabilidade de que o BC, para reduzir o custo de sua atuação no mercado de câmbio, deixe de rolar os contratos, é considerada pequena. "O dólar é um preço importante para o País e a atuação do BC, mesmo onerosa, tem reduzido a volatilidade do câmbio, o que de certa forma é benéfico", pondera Caio Megale, economista e sócio da Mauá Investimentos. "O custo de rolagem dos contratos não deve inibir o BC." Para Megale, embora no momento os contratos de swap reversos sejam onerosos, isto pode mudar com o tempo. "No passado, uma crise abalava a confiança no País, o dólar subia e havia um custo fiscal, agora uma crise poderia gerar ganho", diz. "O estoque em swap reverso do BC é uma seguro para o País que, se não for mantido, vai causar volatilidade no câmbio."