Título: Eólica ganha força com anúncio de leilão
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/07/2008, Infra-estrutura, p. C4

Com o anúncio da realização de leilões específicos e periódicos de energia eólica, feito recentemente pelo governo federal, as empresas do setor começam a tirar os projetos da gaveta. A companhia pernambucana Eólica Tecnologia é uma delas: a empresa prevê instalar em Gravatá (PE), cidade localizada há 40 quilômetros de Recife, uma central eólica com 25 megawatts (MW) de potência, 15 turbinas geradoras, por R$ 110 milhões. "O empreendimento estará em funcionamento em junho de 2009", diz Everaldo Feitosa, presidente da Eólica Tecnologia, que afirma ter mais 500 MW em projetos prontos para serem implantados. Segundo Feitosa, o objetivo é colocar a energia da usina de Gravatá à venda no leilão A-3, que está previsto para ser realizado no primeiro semestre do ano que vem. "Vamos entrar no leilão com diversos projetos", diz Feitosa. O executivo prevê vender no certame mais de 400 MW instalados na região Nordeste do País. "Hoje um megawatt-hora (MWh) produzido por uma central eólica custa em torno de R$ 200, ou seja, um terço do que o governo federal paga hoje para acionar as térmicas a óleo diesel", compara o presidente da empresa. "A tendência é de mais redução no preço da geração eólica", prevê o especialista. Feitosa afirma que, depois da confirmação da realização dos leilões para venda da eletricidade dos ventos, muitas empresas internacionais começaram a olhar o Brasil como o destino das suas filiais. "A eólica já é competitiva no Brasil, mas, por exemplo, o preço de uma turbina aqui é 20% ou 30% mais caro que no mercado internacional", afirma Feitosa. No novo projeto, em Gravatá, a empresa utilizará turbinas norueguesas. "Com a entrada de novas empresas aqui, os preços tendem a cair", comenta o especialista. "Com a alta no preço do petróleo e as preocupações mundiais com o meio ambiente, o governo brasileiro deveria aproveitar para começar a impor metas para incluir entre 1 mil ou 2 mil MW por ano de energia eólica no País", comenta Feitosa, que ressalta a iniciativa de outros países em desenvolvimento. "A Índia e a China já têm metas para ampliar a participação na energia eólica na geração", enumera o presidente da Eólica Tecnologia. Segundo ele, até 2030, a China prevê instalar 100 mil MW de eólica e a Índia, no mesmo período, programa incrementar 50 mil MW de energia do vento em sua matriz. "Nesse contexto, o Brasil está atrás e precisa definir uma política com urgência, ainda mais em tempos de crise do petróleo", salienta. Maior central do País A Eólica Tecnologia, lembra Feitosa, está instalando, em parceria com a Multiner, o maior parque eólico do Brasil, com 151 MW, no estado do Rio Grande do Norte. A central tem investimento total de cerca de R$ 2 bilhões e a expectativa é entrar em operação no início de 2010. Primeira iniciativa O estado de Pernambuco foi o pioneiro na adoção de fontes de energia renováveis. A geração de energia a partir de turbinas eólicas no Brasil teve início em julho de 1992, com a instalação de uma turbina de 75 kilowatts (kw) na ilha de Fernando de Noronha. Desde então, 10% da energia consumida no arquipélago é gerada pelo vento. "Esse percentual poderia ter sido maior, mas, na época, as pessoas pensavam que não seria possível confiar no vento para gerar energia. Muitas dessas resistências foram quebradas com o tempo. Hoje os moradores são a favor da eólica", lembra Feitosa, que, na época, prestou consultoria para a viabilização do projeto.