Título: política monetária prevalece
Autor: Alessandra Bellotto e Adriana Cotias
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

A elevação da Selic não agradou, como seria de esperar, aos empresários do setor produtivo. O presidente eleito da Fiesp, Paulo Skaf, divulgou nota oficial em que afirma: "Notícias como esta só comprovam que no Brasil nós temos autoridade monetária e nos falta autoridade produtiva, que se preocupe com quem trabalha".

O atual presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva, também em nota oficial, declarou que a decisão será interpretada como o primeiro movimento de uma série. "A economia já mostrava sinais de desaceleração há um par de meses. Nestas circunstâncias, a decisão fere o crescimento no seu flanco mais frágil: o mercado doméstico".

"Até então", continua a nota da Fiesp, "parecia que o Banco Central estava se valendo da flexibilidade que o regime de metas lhe confere para acomodar as severas pressões de custos que acometem a nossa economia. Agora, fica claro que a flexibilidade acaba quando a inflação do ano corrente se afasta demais da meta para o ano seguinte". Diante da necessidade de aumentar investimentos e criar condições para crescer, "É preciso tirar o peso excessivo que hoje existe sobre a política monetária, reforçando a política fiscal. Enquanto não houver vontade política para se cortar despesas públicas, os juros elevados nos manterão de bem com a inflação e continuarão a inviabilizar todos os nossos demais objetivos".

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, afirmou que "a decisão se pauta, mais uma vez, por uma postura excessivamente conservadora do BC, que se utiliza unicamente da política e do aperto monetário para debelar pressões inflacionárias. Entendemos que as pressões que existiam não são generalizadas". Os últimos dados relativos ao desempenho industrial - continua a nota da CNI - mostraram um arrefecimento no ritmo de crescimento da produção que marcou o primeiro semestre. O diagnóstico de inflação de demanda que conduziu à alta dos juros é equivocado e contrapõe-se à necessidade de ampliação da oferta. Segundo a CNI, a decisão terá impacto no ritmo de crescimento da economia em 2005.