Título: Copom eleva Selic a 16,25% ao ano
Autor: Alessandra Bellotto e Adriana Cotias
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

No primeiro ajuste desde fevereiro de 2003, três diretores votaram por aumento de 0,50 ponto. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, em sua nona reunião do ano, impor o primeiro aumento do juro básico brasileiro desde fevereiro de 2003. A meta da Selic foi elevada em 0,25 ponto percentual, a 16,25% ao ano, sem indicação de viés. Cinco diretores do Banco Central (BC) optaram pela dose curta, mas três deles votaram por um ajuste maior, de 0,50 ponto, sinalizando que se trata do começo de um ciclo sem data para acabar. Numa semana de intenso debate sobre o tema - ministros, políticos, economistas defendendo a manutenção da taxa, o juro real sobe de 9,25% para 9,47%, considerando-se um IPCA projetado de 6,19%.

Em seu curto comunicado, o BC informou ter dado "início a um processo de ajuste moderado da taxa básica de juros, de forma que a trajetória da inflação não prejudique a recuperação da renda real, preservando, assim, o crescimento sustentado da economia."

Mas, pelo placar, a percepção é de que a ata a ser divulgada no dia 23, virá com tintas carregadas. "O documento vai indicar que os juros vão subir na proporção necessária, funcionando como um viés de alta", disse o economista-chefe do Pátria Banco de Negócios, Luís Fernando Lopes. Do contrário, se transmitir sinais otimistas, a decisão pode não produzir o efeito necessário na estrutura a termo dos juros, neutralizando a ação.

Para Lopes, o tamanho do aumento pode ser insuficiente, porém, para encarecer o custo do crédito. "O BC começou com 0,25 e se não funcionar pode aumentar mais, de olho na taxa corrente de inflação e nas pesquisas para fazer possíveis correções da rota; será por tentativa e erro."

A divisão do colegiado do BC sugere que a ala mais técnica, formada pelos diretores de Assuntos Internacionais, Alexandre Schwartzman, de Política Econômica, Eduardo da Motta Loyo, e de Política Monetária, Afonso Bevilaqua, foram votos vencidos na decisão. "A falta de unanimidade vai gerar muita especulação e dúvidas sobre os próximos passos", comentou o economista-chefe do Banco Modal, Alexandre Póvoa. Para o técnico, se o Copom fosse seguir à risca a meta de inflação, de 4,5% para 2005, teria que impor um ajuste mais forte na Selic. "O Copom interromperia o processo de crescimento, o que seria irracional, então resolveu fazer a sintonia fina, ganhar tempo, mostrar que existe um BC e que há uma meta a ser cumprida."

Apesar de esperar a manutenção do juro, o economista-chefe do Banco Schahin, Cristiano Oliveira, considerou que a alta era quase inevitável. A dúvida era quando começaria. "Para mim era cedo e o BC mostrou que era tarde demais, já que três integrantes votaram a favor de um aumento de 0,50 ponto".

Na sua opinião, o ciclo de alta vai durar até que as expectativas de inflação dos agentes financeiros convirjam para um número mais próximo do centro da meta. Ele destacou ainda que a decisão foi motivada pela aceleração da atividade econômica e, nesse aspecto, o Comitê foi bem conservador. Para Oliveira, na visão do BC, o forte ritmo de crescimento da economia pode gerar uma pressão de demanda, que potencialmente já existe. Póvoa, do Modal, reitera que a pressão não vem só dos preços administrados e que os preços livres estão caminhando de maneira incompatível com a meta.

Oliveira considera que a decisão terá um impacto positivo sobre o cenário inflacionário, mas poderá retardar investimentos. "Pode ser uma decisão temerária no momento em que a economia mais precisa de investimentos, já que há o risco de a oferta de bens e serviços não atender à demanda."

Na avaliação do professor Tharcisio Souza Santos, diretor do Faap/MBA, o resultado foi positivo, já que sinaliza que o BC está alerta em relação aos riscos de não atingir a meta de inflação. "Um aumento de 0,25 ponto não compromete a retomada da economia." Já uma alta mais expressiva, de 0,50 ponto, poderia "esfriar os setores que começam a aquecer".

A Selic estava em 16% desde abril, mas o último aumento deu-se em fevereiro do ano passado, quando a taxa foi elevada a 26,5%.