Título: Pressão de commodities eleva o IGP-10 de julho
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/07/2008, Nacional, p. A4

A incerteza em relação a possíveis perdas das safras norte-americanas de soja e milho que serão colhidas em agosto se refletiram na elevação do Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10). O indicador acelerou em julho com alta de 2%, em comparação com 1,96% do mês anterior, conforme informou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com esta elevação, o índice acumula 8,64% no ano. No acumulado em 12 meses, a elevação é de 14,72%, a maior desde outubro de 2003. De acordo com o economista Salomão Quadros, o mercado precificou, com certo exagero, os impactos das fortes chuvas que afetaram parte das plantações norte-americanas. O destaque para a soja e bovinos já aparecia na apuração do Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), que fechou com 1,89% em junho. Essa pressão se intensificou em julho com as dúvidas acerca da perspectiva de quebra de safra nos EUA. "Com esta incerteza, os preços da soja e do milho deram uma disparada", afirmou Quadros. Com o milho, que também estava sujeito aos mesmos tipos de ocorrências meteorológicas, houve uma certa demora. Por conta da "safrinha", colhida em 120 dias, que aliviou o peso desta commodity no IGP-DI e descolou um pouco o preço interno do internacional. No levantamento do Índice de Preços por Atacado (IPA), que representa 60% do IGP-10, o milho saiu de uma queda de 2,93% para uma alta de 6,93% no indicador de julho. Esta elevação foi superada pelo item bovinos, que havia registrado 5,90% em junho anterior, e subiu 11,15% neste mês. A maior variação ficou por conta da soja, que saltou de 1,33% do mês passado, para 12,88%. Com isto, o IPA agrícola saltou 4,66% em julho superando a alta de 2,62% de junho Esta pressão nos produtos agrícolas manteve a escalada do IGP-10 no período em que 85% dos componentes do indicador apresentaram desaceleração. "O resultado final foi de elevação, mas se olharmos a composição, são altas muitos fortes de poucos produtos de peso na agropecuária brasileira", explica Quadros. "Há um componente pequeno que provocou um choque muito forte associado à incerteza que antecede o período de colheita". Para o diretor da FGV, a safra norte-americana vai comprovar se o receio era ou não procedente. Antes disso, porém, "ela já foi precificada" com certo excesso pelo mercado. Somente com os sinais concretos a pressão deve ceder. O grupo bovinos reflete o efeito da oferta insuficiente. O abate de matrizes criou uma perturbação nos núcleos de reprodução e o plantel ficou menor, comenta Quadros. A combinação de redução no abastecimento com demanda aquecida e exportações ajudou a sustentar os preços da carne. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que representa 20% do IGP-10, recuou para 0,65% ante 0,93% do mês passado por conta principalmente da queda registrada nos grupos alimentação, que saiu de 2,4% de junho para 1,56% no mês. O Índice Nacional da Construção Civil (INCC). que contribui com 10% do índice, variou 1,50% em julho, diante de 2,66% no mês anterior. A diminuição do INCC ocorreu porque os reajustes salariais dos trabalhadores da construção civil de São Paulo, Brasília, Florianópolis e Fortaleza deixaram de impactar o indicador. A queda não foi maior porque outras cidades (Porto Alegre e Curitiba) tiveram seus reajustes captados pelo índice deste mês, segundo Quadros. As commodities explodiram com certo atraso, na avaliação de Julio Gomes de Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para ele, o IGP-10 "está refletindo o boom de commodities agrícolas que já está em cheque". De acordo com Almeida, "isso reflete a última rodada especulativa dos preços de commodities internacionais que chegou ao Brasil". Esta elevação não chega tão rapidamente no caso do petróleo porque existe o "filtro" da Petrobras que amortece o impacto. "O fato de ter entrado na matéria-prima seria preocupante", na avaliação do diretor do Iedi, porque o preço maior dos insumos básicos se transfere para as cadeias de produção, passa pelo atacado e alcança o consumidor. Os aumentos da soja e do milho poderão refluir no médio prazo, na avaliação do economista Raphael Castro, da LCA Consultoria. Castro, no entanto, não descarta novas elevações em razão do petróleo. Segundo ele, uma parte significativa da aceleração do IGP-10 vem dos preços dos produtos bovinos que estão relacionados ao mercado doméstico e já se registra uma certa acomodação da Bolsa Mercantil & Futuros (BM&F) que tende a retirar esta pressão do IPA agrícola. Para Castro, não existe muito espaço para recuo porque há uma elevação no custo dos fertilizantes e isso pode aparecer na próxima safra, apesar da desaceleração que ocorre neste período. O aumento do óleo diesel também é outro fator secundário que tende a afetar os índices no segundo semestre porque seus efeitos atingem vários setores. O IPA industrial carrega também os aumentos de preços que as siderúrgicas nacionais começaram a aplicar desde março deste ano, impactadas pelas altas do minério de ferro e carvão mineral. O petróleo impactou com mais força borrachas e material plástico e esses efeitos tendem a persistir. Segundo Castro, "há um espalhamento destas pressões dentro do IPA industrial". Este efeito deve causar um certo "desconforto" nos próximos seis a oito meses. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()