Título: Empresas gesseiras reduzem desmatamento em Pernambuco
Autor: Ramos, Etiene
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/07/2008, Nacional, p. A4

As empresas do pólo gesseiro do Sertão do Araripe, em Pernambuco, avançaram no cumprimento de exigências ambientais e na redução do desmatamento. Em reunião conjunta realizada ontem em Recife, com participação da Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH), Polícia Federal, Sindicato da Indústria do Gesso de Pernambuco (Sindusgesso) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Este balanço foi realizado depois do embargo de 42 empresas no pólo gesseiro do sertão do Araripe por falta de licenciamento ambiental e de certificados da lenha extraída da Caatinga, em abril passado, pela Operação Mata Branca, realizada pelo Ibama. O impacto das multas, que somaram R$ 9 milhões e encontram-se em processo de defesa judicial, foi sentido pelos empresários que poderão ser anistiados em até 90% dos valores devidos caso cumpram ações e projetos de preservação ambiental, como prevê a legislação. "A gente louva as ações de fiscalização da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e do Ibama e pedimos uma maior presença no pólo gesseiro para construirmos uma imagem positiva. Uma só empresa ilegal atinge o sistema todo", diz o presidente do Sindusgesso, Josias Inojosa Filho. Das 115 empresas do setor, 97 têm licença ambiental, um crescimento significativo em relação a 2004, quando apenas 17 eram licenciadas. Comparando dados de 2004 com os de 2008, o superintendente do Ibama em Pernambuco, João Arnaldo Novaes, estima que as fiscalizações e a conscientização dos empresários impediram o desmatamento de 5.184 hectares na região, embora a lenha ainda responda por 65% da matriz energética do pólo gesseiro de Pernambuco, que abastece 95% da demanda nacional. O óleo BPF e o coque representam 20% e 15%, respectivamente, das fontes de energia para os fornos das calcinadoras e mineradoras. Da lenha usada, 15% vêm de espécies frutíferas, como o cajueiro, e exóticas, como a algaroba, e só 5% dos planos de manejo florestal. Os restantes 80% são de vegetação da caatinga. "Na região do Araripe só restam 44% de cobertura florestal, enquanto em todo o bioma caatinga são 62%", diz o engenheiro florestal Francisco Barreto Campello, do Programa GEF Caatinga, em Pernambuco. Segundo Campello, hoje existem 16 mil hectares sob manejo florestal, mas a demanda anual é de 1,458 milhão de esteres (st) ¿ medida do metro cúbico de lenha ¿ o que equivale a nove mil hectares. Mas como a recuperação das árvores leva de 13 a 15 anos, só 1,2 mil hectares podem ser usados por ano, implicando num déficit de oito mil hectares de áreas de manejo para abastecer as indústrias do pólo. A situação se agrava com a demanda de outros estados como o Pará e o Maranhão pela lenha da caatinga, também procurada para a metalurgia do ferro. A possibilidade de haver minério de ferro, de maior valor comercial, também na Chapada do Araripe, segundo Josias Inojosa, irá desviar ainda mais a lenha e aumentar os problemas para quem vive do gesso. Ele afirma que se não houver outras fontes de energia, como o gás natural, a atividade de mineração e o beneficiamento da gipsita que geram 12.800 empregos diretos e cerca de 64 mil indiretos na região, poderá voltar a ser apenas extrativista, como era há 58 anos, quando começou. "Precisamos ter um planejamento futuro. O manejo florestal é para curto prazo", afirma, alertando para o risco de grandes empresas passarem a beneficiar a gipsita longe do Sertão do Araripe, onde existam outras fontes de energia mais viáveis. Alternativas existem. Até que elas cheguem, João Arnaldo Novaes defende os investimentos em alternativas energéticas que poupem a lenha como a usada pela Só Gesso, do empresário José Aureliano, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes e Comerciantes de Gesso (Assogesso). Há um ano, depois de conhecer máquinas na Alemanha, ele investiu R$ 120 mil, com recursos próprios, em equipamentos que reduziram em mais de 50% o consumo de lenha na produção. O novo sistema transforma a lenha em cavaco (pequenos pedaços) e automatiza a alimentação dos fornos. "Gastava R$ 12 por tonelada produzida e hoje gasto R$ 5,00 com a diminuição da lenha." Além da Só Gesso, três empresas adotaram o sistema e outras três deverão incorporá-lo até o final deste ano. As iniciativas ainda são tímidas, diz o presidente do Sindusgesso, porque além do desconhecimento sobre a importância de uma produção sustentável e da falta de recursos dos produtores, o mercado interno e o internacional não fazem exigências de certificação de uso de madeira de reflorestamento para produtos da gipsita.