Título: Carne bovina é novo foco de pressão
Autor: Vanessa Stecanella
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/07/2008, Nacional, p. A4

Com o rebanho brasileiro diminuindo e a demanda mundial crescendo, o preço da carne bovina já registra curva ascendente, o que pode representar mais um foco de pressão para a inflação doméstica. A avaliação é da gerente do Sistema de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes. "A carne tem subido bastante, em um movimento que começou no ano passado, quando os produtores começaram a abater matrizes para reduzir a oferta e aumentar a rentabilidade." De janeiro a junho, o preço da carne já acumula alta de 10,14%, superando a inflação acumulada no primeiro semestre, que foi de 3,64%, conforme dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho. Em 2007, a carne subiu 22,15% e a inflação, 3,14%. No ano anterior, o produto ficou 0,7% mais caro, enquanto os preços em geral subiram 5,69%. Em 2005, a carne aumentou 0,27%, enquanto o IPCA subia 5,69%. Segundo o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira, o rebanho de gado do Brasil deve terminar este ano com 191,2 milhões de cabeças, uma redução de 0,98% em relação a 2007. Deste total, 23,02% serão abatidos. No entanto, apesar da redução do contingente de animais, ele lembra que o setor já passou por momentos piores. "Em junho de 2006, a arroba custava R$ 55,61 ¿ o menor preço dos últimos 50 anos", destaca Nogueira. Ontem, o boi gordo negociado na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) terminou a sessão cotado a R$ 84,51, uma queda de 0,46% em relação ao ajuste anterior. O economista do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, destaca que o consumo tem aumentado significativamente e o Brasil, como maior exportador mundial, surge naturalmente com o principal "recebedor" desta demanda adicional. "Devido a algumas restrições existentes no comércio mundial de carnes e ao crescimento do consumo de alimentos no mundo todo, os preços domésticos acabam sendo muito influenciados", avalia. Um eventual desabastecimento de carne bovina devido a uma queda da produtividade é afastado por especialistas, que acreditam ter o Brasil condições de restabelecer o seu rebanho e continuar na dianteira da produção mundial. "A falta de carne no mercado está totalmente descartada, pois os produtores brasileiros vão buscar alternativas para melhorar a rentabilidade e retomar a escala de produção", avalia o professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite. Segundo Eulina Nunes, do IBGE, a aceleração dos preços desse produto por conta da queda na produção e a entressafra prevista para terminar em maio, não deve provocar um desabastecimento, mas pode contribuir para que o consumidor substitua a carne bovina por frango e suíno. "Se a carne ficar mais cara, a população pode procurar outra opção. O frango pode ser uma alternativa, já que o quilo custa cerca de R$ 3. Mesmo que a demanda pela ave aumente é possível elevar a produção rapidamente nas granjas." diz Eulina.