Título: Para Amorim, o primeiro dia de negociações foi inútil
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Fonte: Gazeta Mercantil, 22/07/2008, Internacional, p. A10
O primeiro dia de negociações sobre a liberalização do comércio mundial foi "totalmente inútil", afirmou ontem em Genebra o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Sem surpresas, mas também sem idéias. Estamos no mesmo ponto anterior da reunião", afirmou Amorim ao final do primeiro encontro de ministros de 40 países convocados para tentar salvar a Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC). "Talvez tenha sido uma reunião necessária, era preciso fazê-la mas, realmente, totalmente inútil do meu ponto de vista, porque não ouvi nenhuma idéia nova, nenhuma sugestão. Esperemos amanhã(hoje)", acrescentou. A Rodada Doha está polarizada entre os pedidos dos países emergentes por um maior acesso aos mercados agrícolas dos países ricos e os dos Estados Unidos e Europa que pretendem maior abertura para suas exportações de produtos industrializados. A representante de Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab, foi mais positiva ao comentar o primeiro dia de discussões. "Alguns países começaram a falar realmente do que podemos fazer, centralizando-se no que podem fazer e no que não podem", declarou. Celso Amorim havia acusado no sábado os países ricos de manipular informações sobre as negociações da Rodada, em uma estratégia que ele disse lembrar a utilizada pelo chefe de propaganda nazista Joseph Goebbels. Suas declarações chegaram a causar mal-estar diplomático em Genebra no domingo. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, é o principal articulador da estratégia do Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio) e uma figura chave nas negociações da Rodada Doha. Experiente diplomata de 66 anos, com ampla carreira no exterior, Amorim assumiu o cargo no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e empreendeu uma política externa orientada para a integração sul-americana e as relações Sul-Sul. Assumiu com a Índia a liderança do chamado G20, grupo dos 20 países em desenvolvimento criado em 2003 e que colocou seus pedidos no mesmo nível da mesa de negociação com a Europa e os Estados Unidos. Os analistas atribuem a Amorim o mérito de ter mantido a unidade do G20 e ainda de servir de ponte com Bruxelas e Washington, capitais com as quais mantém um tratamento direto e constante, apesar de ser um duro negociador que reivindica o fim dos subsídios agrícolas nos países ricos. Uma última chance Nessa reunião de Genebra, os ministros do Comércio de aproximadamente três dezenas de países, entre os quais Estados Unidos, China, União Européia (UE) e Brasil, tentam agarrar a última chance de firmar um acordo sobre a redução de tarifas e subsídios para os setores agrícola e de produtos manufaturados antes da próxima eleição presidencial dos EUA. Lamy, diretor-geral da OMC, disse no mês passado que não existe nenhum "Plano B". Os EUA, a UE e o Japão dizem que os países em desenvolvimento têm de fornecer mais acesso a seus mercados por meio da redução de tarifas incidentes sobre os produtos industrializados que importam, enquanto que os países mais pobres querem abrir os mercados dos países ricos para suas commodities, como o arroz, a carne bovina e o trigo.