Título: Empresa avalia atuar como exportadora
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Fonte: Gazeta Mercantil, 17/09/2004, Energia, p. A-6

A Petrobras poderá atuar como uma trading exportadora de álcool para países interessados em adicionar o combustível à gasolina. Ontem, o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, disse que a empresa avalia uma operação que consiste na compra de álcool dos usineiros brasileiros e a posterior revenda para outros países, como, por exemplo, o Japão. As negociações com o governo japonês começaram no ano passado, mas com a visita do primeiro-ministro Junichiro Koizumi ao Brasil, encerrada ontem, o processo avançou. Apesar disso, não há data prevista para o início da operação.

O interesse do Japão em importar álcool do Brasil tem um viés ambiental. Mais especificamente, o protocolo de Quioto, que prevê uma redução gradual de emissão de poluentes por parte dos países membros. Como o álcool é um combustível mais "limpo", sua adição à gasolina reduziria o nível de poluição no ar. Se a Rússia, outro grande consumidor, aderir ao protocolo, as chances de o acordo ser assinado crescem e as exportações de álcool podem deslanchar.

As estimativas são de que as vendas apenas para o mercado japonês podem chegar a 1,8 bilhão de litros de etanol por ano - o equivalente a cerca de 10% da produção nacional. O próprio Koizumi confirmou, em visita à região de Ribeirão Preto (SP), principal produtora de álcool do País, o interesse japonês pelo produto.

De acordo com o diretor da Petrobras, o projeto vem sendo discutido no governo brasileiro. Os ministérios de Minas e Energia e da Agricultura têm conversado com os usineiros sobre a possibilidade de ampliação da área plantada de cana de açúcar. Até porque, o novo negócio já despertou o interesse de outros países como a China e a Índia. "Se for bom, a Petrobras vai entrar. Há interesse lá fora", disse Costa. Se a decisão for tomada, a Petrobras fretará navios para exportação de álcool.

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro japonês anunciaram o interesse em promover cooperação e integração dos dois países, assim como entre o Mercosul e o Japão. A idéia é evoluir para um possível acordo de livre comércio entre o Japão e o Mercosul (ver página B-12).

Central petroquímica

Na área petroquímica, Paulo Roberto Costa informou que a Petrobras decidirá até o fim do ano se participará de uma nova central de matéria-prima petroquímica em parceria com o grupo Ultra. A unidade teria capacidade de refino de óleo pesado superior a 150 mil barris diários e demandaria investimentos de cerca de US$ 3 bilhões.

"Os estudos ainda estão em fase inicial. Não há nem definição sobre o local", disse Costa. O projeto inicial, apresentado pelo Ultra à Petrobras no início do ano, previa a construção da nova central no Rio, mas Costa informou que São Paulo e Espírito Santo também estão na disputa. Segundo ele, não está descartada a entrada de novos parceiros no negócio.