Título: Apoio de governadores e até de Lula não convence eleitor
Autor: Correia, Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/07/2008, Politica, p. A7

As pesquisas mostram avaliações positivas do eleitorado sobre seus governos. Eles têm nas mãos a visibilidade do principal cargo do Executivo em seus estados, a máquina do governo e poder de decisão, em grande parte dos casos, na costura dos apoios que irão sustentar seus candidatos na corrida deste ano pelas prefeituras. Ainda assim, especialmente no que diz respeito às capitais, os governadores têm enfrentado dificuldades na missão de transferir votos a seus candidatos na corrida pelas prefeituras. A situação daqueles que esperam o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deverá ser muito diferente. Com o presidente evitando palanques polêmicos, todos os candidatos da base - 14 partidos - acabam por usar o "apoio" do presidente e tentam beliscar pelo menos parte do alto índice de aprovação do governo federal: 58%, segundo a mais recente pesquisa Ibope/CNI. "O caso do Rio pode ser explicado pelo atraso no início da campanha do Eduardo", explica, algo sem jeito, o governador Sérgio Cabral (PMDB) ¿ que conta com 33% de avaliação positiva em sua gestão ¿ ao falar sobre o baixo desempenho de seu candidato à prefeitura da capital carioca, Eduardo Paes (PMDB), que patina na casa dos 8% de intenções de voto, empatado com Fernando Gabeira (PV) e atrás dos candidatos Marcello Crivella (PRB), Jandira Feghalli (PCdoB) e Solange Amaral (DEM). Paes só entrou na disputa há um mês. Cabral aposta na baixa rejeição de seu candidato ¿ 12%, de acordo com o último levantamento Ibope, divulgado neste mês ¿ para elevar suas chances de participação no segundo turno. Crivella, líder da corrida eleitoral, também aparece como o mais rejeitado pelos eleitores cariocas, com 29% do eleitorado declarando não votar nele de jeito nenhum. Horário eleitoral Para o gerente de Projetos do Ibope, Maurício Tadeu Garcia, nessa etapa inicial das campanhas ainda não houve tempo suficiente para os eleitores vincularem as imagens dos candidatos às forças políticas que os apóiam. "Ninguém sabe se o candidato A é ligado ao governador B, só quando o horário eleitoral gratuito iniciar é que teremos a medida exata do poder de transferência de votos dos governadores, mesmo quando estes são bem avaliados pelo eleitorado ¿ pondera Garcia. Um exemplo é o petista João da Costa, candidato à prefeitura de Recife (PE). O jingle da campanha de João da Costa, criado pelo marqueteiro Duda Mendonça, diz tudo: "Tá quatro vezes mais forte/ Recife tem um timão/ governador, presidente/ e dois prefeitos João". João da Costa é o candidato do atual prefeito da capital pernambucana, João Paulo (PT), do governador Eduardo Campos (PSB) e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo assim, Costa aparece em terceiro lugar nas pesquisas, com 20% das intenções de voto, atrás do deputado federal Carlos Eduardo Cadoca (PSC) e de Mendonça Filho (DEM), que lidera a disputa pelo Palácio Capibaribe com 30% dos eleitores. "O problema, nesse caso, é que o candidato João da Costa é desconhecido do eleitorado da capital e, em uma situação como essa, é mais difícil a transferência de votos, não importa o quanto bem avaliado o governador seja", diz Garcia. "Claro que a situação pode mudar. O caso clássico nesse sentido é o Celso Pitta, que partiu dos 8% de intenção de voto para uma campanha vitoriosa só com o apoio do Paulo Maluf e aquela frase, já também clássica, do `se ele não for um bom prefeito, não votem mais em mim¿. Ele foi eleito, deu no que deu e o Maluf continuou sendo muito bem votado. Transferiu seus votos e manteve o poder de fogo eleitoral. Entretanto, na avaliação do cientista político do Iuperj, Jairo Nicolau, a "mágica" da transferência de votos é um evento raro, mesmo partindo de políticos com alto capital eleitoral. Segundo ele, os candidatos costumam supervalorizar a conexão com políticos de destaque durante a costura de apoios antes do início da campanha propriamente dita, em busca de espaço no horário eleitoral e palanques amplos, mas a presença de um governador bem avaliado, ou mesmo de um presidente, nos comícios, não garante vitória. "Historicamente, os governadores transferem poucos votos e, hoje, nem o presidente Lula pode ser considerado como cabo eleitoral definitivo."