Título: Doha prossegue, mas com poucas perspectivas de avanço
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Fonte: Gazeta Mercantil, 25/07/2008, Internacional, p. A9

As negociações para salvar um acordo comercial global prosseguem hoje, depois de os ministros terem realizado avanços mínimos, ontem, na tentativa de impedir a suspensão da Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio. Agências noticiosas chegaram a informar que era aguardada até mesmo a suspensão dos trabalho, no decorrer do dia. "Há algum avanço...mas nem perto do que precisamos", disse a representante de Comércio dos EUA, Susan Schwab, após reunião com outros representantes comerciais no quarto dia de negociações emergenciais em Genebra. "Alguns países estão se esforçando mais do que outros, e veremos amanhã se todos estão preparados para fazer sua parte". O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também afirmou que o dia de hoje deve ser decisivo para as negociações. O ministro do comércio indiano, Kamal Nath, declarou que as negociações estão avançando "aos poucos". Mas o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, respondeu "Não" ao ser questionado sobre se houve progresso. Persiste o impasse entre países ricos e pobres sobre quem deve dar o próximo passo. Originalmente, as negociações deveriam ir até sábado, mas dirigentes afirmam que ou elas fracassam antes disso devido às divergências ou elas se arrastarão pela próxima semana. Os EUA e a União Européia já fizeram ofertas para reduzir tarifas e subsídios agrícolas, e agora pressionam os países emergentes, como Brasil, Índia e China, a apresentarem propostas mais generosas na abertura para serviços e produtos industriais. Os países emergentes dizem que as ofertas de Washington e Bruxelas são insuficientes para que a Rodada de Doha, lançada em 2001, alcance seu objetivo de ajudar os produtores mais pobres. "As negociações estão trancadas, mas a chave para destrancá-las está nas mãos das economias emergentes", disse à Reuters o representante italiano, Adolfo Urso. O indiano Nath afirmou que os EUA precisam ir além da oferta feita nesta semana de limitar seus subsídios agrícolas a 15 bilhões de dólares por ano, quase um terço do teto atual mas o dobro dos pagamentos do ano passado. Nath explicou que as negociações estão "avançando" em áreas que vão da determinação do teto dos subsídios agrícolas às tarifas sobre bens industriais. Fator SarkozyAs negociações de Doha sofreram novas críticas do presidente da França, Nicolas Sarkozy, que se mostrou preocupado com a redução das tarifas agrícolas para a UE. Ele afirmou que não poderia assinar um acordo com base na situação atual das negociações. Os comentários foram rebatidos pela Alemanha, grande exportador mundial. "Tem-se a impressão de que a França não quer ver uma conclusão positiva", disse uma autoridade alemã. "A Alemanha vai continuar lutando por uma conclusão bem-sucedida." O representante da UE, Peter Mandelson, que mantém relações notoriamente tensas com Sarkozy, esclareceu logo a situação recordando que está encarregado de negociar em nome do conjunto da Europa. "Não posso dizer mais nada senão que cabe à CE negociar aqui na OMC, em nome de todos os Estados membros, e que continuaremos a fazê-lo dessa forma", respondeu Mandelson ao ser ouvido sobre Sarkozy.