Título: Piora de cenário deteriora expectativas de alta do PIB
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/07/2008, Nacional, p. A7

Mais otimistas nos primeiros meses deste ano, consultorias vêem um cenário deteriorado para a continuidade do crescimento econômico brasileiro em patamares mais altos como o apurado em 2007. A pedido da Gazeta Mercantil, fizeram projeções até 2014, com base nas quais é possível dizer que os acontecimentos de 2008 e 2009 influenciarão na menor expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no médio prazo. Não só a alta da taxa Selic -cujas projeções para dezembro variam de 14% ao ano a 15,3% a.a.-, mas a cena externa volta a ter peso significativo para os próximos dois anos. Claudio Porto, diretor-presidente da Macroplan, aponta três elementos de preocupação. Para ele, a crise dos Estados Unidos deve se agravar, com boa possibilidade de recessão. O segundo ponto elencado é a generalização da inflação mundial, seguida pela alta acentuada do preço dos alimentos e a pressão de commmodities industriais, além da maior volatilidade das cotações do petróleo. Como conseqüência, diz, a alta das taxas de juros pelo mundo com a redução da liquidez internacional, levando a uma desaceleração do crescimento global tanto neste quanto no próximo ano. "De meados de junho para cá acentuou-se o que estão chamando de tempestade perfeita". Porto ressalta ainda as dificuldades internas. Entre elas a expansão inflacionária com uma característica nova em relação aos surtos de 1999 e 2003, que foram basicamente provocados pelo câmbio em desvalorização. De acordo com o economista, atualmente há um efeito simultâneo entre pressão de demanda, por haver mais pessoas consumindo em especial pela emergência da classe C, e a pressão de custo. Essa última ocorre pela falta de folga de capacidade instalada, os gargalos acentuados pelo crescimento recente, como em energia elétrica, e a alta de preços dos produtos importados, não compensada pelo real valorizado. "Estamos importando parte da inflação mundial", afirma. Muito embora, o panorama não seja céu de brigadeiro, Porto complementa que o País seguirá crescendo este ano pelo efeito inercial. Por isso, projeta expansão do PIB de 4,5% ante os 4,7% previstos anteriormente. "Neste ano sentiremos um ajuste suave. O aperto mais forte virá em 2009", diz, lembrando que a taxa de crescimento do produto deve cair para 3,5%. Sem pessimismo "Estamos menos otimistas, mas não pessimistas", afirma o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. "Mesmo recuando nas expectativas, o Brasil ainda está crescendo acima do seu potencial, que é de 3,5%", diz, estimando alta de 4,6% para 2008 e recuo para 3,7% ano que vem. Agostini concorda com Porto no fato de que o cenário ainda gera preocupações, principalmente em relação à inflação, pois, na sua avaliação, o preço das commodities não deve arrefecer tão cedo. No entanto, o economista da Austin não vê risco acentuado de crise norte-americana. Pelo contrário. Para ele, neste ano deve haver um ajuste com expansão de 1,5%, já retornando a um patamar maior (3%) em 2009. O economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, também se diz menos otimista e argumenta que o PIB do País, mesmo com desaceleração, a média de crescimento será mais positiva do que o histórico recente. Ele projeta taxa de 5% neste ano. Retomada Os economistas ouvidos pela Gazeta Mercantil concordam que o Brasil vai desacelerar, mas por pouco tempo. A partir de 2010, tem início uma nova retomada do crescimento. Isso porque, ressalta Agostini, os investimentos continuarão crescendo, principalmente porque PIB não deixou de crescer "Só perdeu o fôlego, situação bem diferente da de 2003". "A continuidade de alta dos investimentos abre caminho para bom futuro", complementa Marcel Pereira, muito embora lembre que, se o País fizesse as reformas necessárias e economia fiscal de maior qualidade "se aproximaria do ótimo", mas se acomoda.