Título: Marina Silva isolada entre os verdes
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 27/04/2011, Política, p. 4

MEIO AMBIENTE Sete meses depois de se destacar na campanha presidencial, ex-senadora atrai menos de 80 pessoas a evento no DF

A candidata de 19,6 milhões de votos na disputa presidencial e protagonista de uma campanha milionária ¿ financiada basicamente pelo dono da Natura Cosméticos ¿ precisou recorrer a uma caixinha com doações para pagar o aluguel do auditório usado em Brasília para mobilizar militantes na noite de segunda-feira. A passagem pelo Distrito Federal do movimento intitulado Transição Democrática, que busca alterar o comando do Partido Verde (PV) e abrir espaço para o grupo de Marina Silva, evidenciou o isolamento da ex-senadora na legenda. A baixa mobilização dos marineiros (inclusive na instância do partido) e a falta de apoio do comando do PV, que reconduziu José Luiz Penna à Presidência da sigla, deixaram Marina escanteada. Quase sete meses após o feito histórico de provocar o segundo turno da eleição presidencial, numa onda verde que surpreendeu e incomodou adversários do PT e do PSDB, Marina atraiu menos de 80 pessoas ao auditório do Centro Cultural de Brasília, na Asa Norte. Nenhuma liderança expressiva do PV, local ou nacional, ciceroneou a ex-candidata.

Na entrada, uma caixinha foi colocada para recolher as doações. ¿Por favor, deposite aqui a sua contribuição para o aluguel do auditório. O movimento Transição Democrática do PV agradece¿, dizia um cartaz colado à caixa. Até as 21h, a única liderança nacional aguardada, o presidente do PV em São Paulo, Maurício Brusadin, não havia chegado ao encontro. O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), que vem atuando como porta-voz do movimento, não compareceu. A justificativa dada foi de que perdera o voo entre Rio e Brasília. Derrotado na disputa pelo governo distrital, Eduardo Brandão, presidente do PV no DF, tampouco apareceu. Mandou avisar que tinha outros compromissos. Brandão é secretário de Meio Ambiente no governo do petista Agnelo Queiroz.

Marina foi a candidata à Presidência da República mais votada no DF. A ex-senadora tem um apartamento em Brasília, uma das cidades onde reside, além de Rio Branco (AC). O DF esteve na rota do movimento Transição Democrática, que passou por São Paulo, Fortaleza e Belo Horizonte ¿ outra capital onde Marina ficou à frente no primeiro turno da disputa presidencial. A caravana segue para Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Manobra Em Brasília, Marina repetiu por diversas vezes os correligionários que estão alinhados com ela na tentativa de renovar o PV: Alfredo Sirkis, Fernando Gabeira (derrotado na disputa pelo governo do Rio), Fábio Feldman (derrotado em São Paulo) e Sérgio Xavier (ex-candidato ao governo de Pernambuco). O grupo tenta destituir José Luiz Penna da Presidência do PV. Ele ocupa o cargo desde 1999. Uma manobra da executiva nacional o reconduziu ao cargo por mais um ano. Marina quer a realização da convenção nacional em junho e o fim da reeleição dentro do partido. ¿Um grupo do partido achou que isso deveria ficar para o ano que vem. Mas iria acontecer o mesmo de 2010: 2012 é ano de campanha e não daria para fazer a renovação.¿

Marina disse que não pretende se candidatar à Presidência do PV. ¿Desde o início sempre falei que não estava disputando cargo, mas não podemos ter comissões provisórias, que são nomeadas e muitas vezes ficam ao sabor da divergência.¿ A ex-senadora ressaltou também que não existe o ¿grupo da Marina¿. ¿É um desrespeito com pessoas como Gabeira, Sirkis, Feldman, Sérgio Xavier.¿ Marina também afirmou que não pretende fundar um novo partido, em caso de fracasso do Transição Democrática. ¿Nunca falei disso. Isso foi, digamos, uma ênfase retórica do Sirkis.¿