Título: Empresários brasileiros dizem que há opções além do acordo
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/07/2008, Internacional, p. A13
O fracasso das negociações em Genebra foram comentadas por representantes da indústria e do setor agropecuário brasileiro. Mário Marconini, diretor de negociações internacionais da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), defendeu a posição do Brasil: "Parece que havia o interesse de alguns países de que a Rodada fracassasse, notadamente Índia e Argentina. O Brasil nunca tinha negociado em Doha em bloco com o Mercosul, mas o fez desta vez para dar mais flexibilidade à Argentina, que continuou dizendo não a tudo. E a Índia quer salvaguardas mesmo já tendo alta proteção. Se o Brasil não aceitasse o pacote na semana passada, o fracasso teria acontecido muito antes. O país adotou uma posição de conciliação e fez o necessário. Mas os outros deixaram o Brasil de lado. A China nunca falou nada e, nos últimos momentos, resolveu ser contra tudo." Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, "O fracasso de Doha significa que o protecionismo venceu a abertura comercial, e o Brasil perde com isso. O setor agrícola, é claro, é o maior perdedor pois mundialmente é ele que tem a maior carga de subsídio e protecionismo. Os acordos bilaterais têm que ser a saída para o Brasil agora. O problema é que um entendimento tem que ser aceito por todos os parceiros do Mercosul e o Brasil te, uma economia muito maior que os demais sócios, os interesses são diferentes." Jackson Schneider, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) disse que "O setor automobilístico aplaude o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que negociou tendo em vista os interesses da economia brasileira",. Ele lamentou o fracasso das negociações na Rodada Doha, "pois todo mundo sai perdendo." Para Schneider, "é uma pena, e depois de deixar passar a ressaca, o Brasil deve buscar seus interesses nos acordos bilaterais. Nossa melhor lógica de integração é a busca de mercados específicos." Elisabete Seródio, consultora em comércio e negociações comerciais : "Esses acordos são muito mais políticos, eles geram pouco fluxo de comércio. A Índia estava pesando muito o lado dela e entendendo que teria de abrir mais o mercado do que ganhar mercado. Eles teriam de reduzir práticas internas que são praticamente vitais para seus muitos agricultores. Hoje ficou pior para a Índia abrir em agricultura do que para a Europa. A Índia não tem o que oferecer." Haroldo Cunha, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão: "Acho que o Brasil adotou uma postura um pouco menos agressiva do que a Índia e a China, pois uma negociação razoável era melhor do que nada. Isso mostra que o Brasil tinha interesse em negociar. Analisando como algodão, há frustração pois imaginávamos que conseguiríamos algo efetivo nessa rodada. É um sentimento negativo e pode levar a uma diminuição de área no Brasil pois o algodão dos EUA continua com muitos incentivos" Soraya Rosar, consultora da Confederação Nacional da Indústria (CNI): "Não é uma boa notícia, de jeito nenhum... É triste ter perdido todos esses anos de trabalho. Para um pais emergente, não ter uma OMC forte, realmente é preocupante...O agronegócio brasileiro realmente é que perde mais." Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec): "O futuro do Brasil na parte de grãos é irrefutável. Não é um ou outro percalço de negociação que vai impedir (esse futuro). O que pode acontecer é que com o fracasso de uma rodada dessa, que se esperava pelo menos diminuir o subsídio, pode atrasar um pouco esse crescimento abrupto. Mas de maneira nenhuma isso vai descontinuar a expansão. O setor espera que as negociações possam prosseguir no futuro, porque diminuindo o subsídio o Brasil ganharia mercados extras... Mas o Brasil vai continuar o seu destino. Precisamos é ampliar a produção para atender à demanda adicional, coisa que hoje não vejo o Brasil preparado em termos de infra-estrutura de transporte e mesmo em expansão de plantio." Christian Lohbauer, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef): "Da perspectiva do setor exportador de frango, é uma pena. A gente vinha trabalhando num ambiente de menos ambição para que se pudesse garantir um pouco mais de acesso ao produto brasileiro na UE e sair desse universo de salvaguardas e cotas, trabalhamos também favorecendo a redução dos subsídios americanos e junto com o setor agrícola e industrial contra salvaguardas para países em desenvolvimento. O cenário do mercado mundial no que se refere principalmente ao mercado europeu continua difícil, pois vão manter como é hoje, com tarifas altíssimas, específicas, aplicando salvaguardas agrícolas reminiscentes da Rodada Uruguai (...) e certamente no ambiente de Doha conseguiríamos algumas toneladas sem estas tarifas. Num segundo momento permanecem todas as barreiras sanitárias. A notícia não é boa para ninguém, provocará um movimento de acordos bilaterais. Passaremos por um ambiente de incerteza no ambiente multilateral." Pedro Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs): "É uma pena. Acho que trabalhávamos para um acordo modesto, mas um acordo. O fracasso é ruim, mas também não é fim do mundo, vamos olhar para a frente. Essas regras multilaterais têm 50 anos, não vai ser um revés que coloca tudo em risco, não é o caos. Não se conquistam os aumentos que iriam ocorrer agora, mas a vida continua. O que o Brasil cresceu como exportador agrícola nos últimos 15 anos não teve nada a ver com a Rodada Uruguai, mas sim com o aumento de produtividade, uma reforma estrutural." Gilson Ximenes, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), ligado a produtores. "Não tem impacto para o setor de café. O café é um produto essencialmente financeiro, depende muito de bolsa, é um negócio completamente diferente. Não acredito que haveria redução de tarifa para o produto industrializado."