Título: Analistas desconfiam de trajetória de recuo da dívida
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/07/2008, Nacional, p. A5

A despeito do resultado primário nos primeiros seis meses do ano ter sido recorde histórico e seguir em direção à meta anual, há dúvidas se é suficiente para manter neste e nos próximos anos a trajetória de queda da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB). "A arrecadação está indo bem e as despesas estão crescendo em ritmo menor. Em tese, isso é bom, mas talvez não baste para que a dívida em proporção do PIB continue decrescente", afirma Roberto Padovani, economista-chefe do banco WestLB. Ajudada pela expansão da atividade econômica e pela inflação que aumenta o PIB, a dívida líquida do setor público recuou de 40,6% do produto em maio para 40,4% em junho. Se de um lado há essa força positiva, de outro, diz Padovani, existe o ciclo de aperto monetário com influência direta em um terço do estoque da dívida mobiliária federal interna. Dados do Tesouro Nacional de junho passado mostram que a participação de títulos públicos com remuneração pela taxa Selic era de 34,46%. A situação é pouco melhor do que em 2005, quando o juro básico também estava sendo elevado. À época, os títulos públicos chamados "selicados" correspondiam a 51,77% do total. "O impacto é menor, sem dúvida, mas ele existe", afirma. "O problema é a qualidade do fiscal: temos hoje uma dívida alta e um financiamento ruim. E isso faz com que os juros e o câmbio estejam nesse nível que prejudica o setor privado". Na meta, mas sem folga Para o curto prazo, economistas ouvidos pela Gazeta Mercantil não vêem barreiras para que o setor público alcance a meta de 4,3% do PIB estabelecida para o ano. Porém, concordam, não haverá folgas como as apuradas em anos recentes. "A situação não está totalmente confortável", ressalta Lygia Cesar, da equipe de analistas da MCM Consultores Associados, com base no resultado de 4,27% do PIB acumulado em 12 meses terminados em junho. Houve recuo se comparado ao período encerrado em maio (4,34%) e é o mesmo percentual registrado em igual etapa do ano passado. Leonardo Miceli, da Tendências Consultoria Integrada, complementa que o governo mesmo vai limitar sua folga de caixa, uma vez que a proporção de gastos no PIB recuou, mas as despesas não param de crescer.