Título: Expansão moderada diminui pressão inflacionária, diz Mantega
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/08/2008, Nacional, p. A4

A redução do ritmo de crescimento econômico foi uma medida necessária para impedir que a alta de preços das commodities internacionais acelerasse o processo inflacionário brasileiro e evitar que esta pressão se espalhasse por vários setores produtivos, na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Colocamos a economia brasileira em um patamar mais baixo mas ainda robusto", declarou. Os preços dos alimentos e do petróleo estão em queda no mercado internacional e este é um bom indício de reversão das taxas da inflação, na avaliação de Mantega. "O pior já passou", declarou o ministro. "A inflação está sob controle no Brasil", acrescentou. O Banco Central (BC) não atua isoladamente do combate à inflação, segundo Mantega. Para ele, não há divergências entre a atuação do BC e seu ministério. O governo federal conseguiu aumentar o superávit primário e reduziu tributos e elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para pessoas físicas em uma taxa superior aos 0,38% da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). O BC atuou por meio das elevações das taxas de juros, que aumentou o custo do crédito para pessoa física, e aumentou o compulsório para leasing que representará a retirada de R$ 40 bilhões do mercado. "Não há divergência (com o BC) e não aceito que a Fazenda tenha uma ação mais suave. É um equívoco e nem o BC diz isso", comentou o ministro. "Estamos trabalhando em conjunto. Há um choque de commodities que é inegável, não vamos brigar contra números", afirmou. Os indicadores mostram que a pressão dos alimentos e bebidas é expressiva, diz Mantega. Estes produtos contribuíram com 15,5% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 6% ao longo de 12 meses, comenta o ministro. Os demais grupos de produtos representaram 3,5% do índice. "O principal vetor da inflação brasileira é o choque de commodities", assinalou. Os indicadores divulgados recentemente, na opinião de Mantega, mostram que o governo tem obtido os resultados esperados em seu esforço para conter a elevação dos preços. "Todos os índices brasileiros estão com redução", afirmou, citando as desacelerações dos Índice de Preços ao Consumidor (IPCs) e Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). Os indicadores seguirão até o final do ano com regressões seguidas até fechar em 6,5%, conforme estimativa de Mantega. O efeito da oferta de crédito sobre a inflação havia sido avaliado pelo ministério que manifestou sua preocupação com a expansão excessiva das linhas de financiamento. "Desde o final do ano passado alertei para o fato que o crédito estava subindo a taxas excessivas. É claro que eu quero que o crédito aumente porque ele é um dos dinamizadores do crescimento mas menos do que 30% ao ano". O governo se empenha em desaquecer um pouco a demanda para limitar a pressão inflacionária. Os investimentos também acabam arrefecendo como parte do processo. O crescimento, na avaliação de Mantega, continuará em nível "vigoroso", entre 4,5% e 5%. O ministro evitou comentar as medidas de política monetária adotadas pelo BC com o aumento recente de 0,75 ponto percentual da taxa Selic e a expectativa do mercado de outra elevação na mesma proporção na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom). "Se foi adequada ou não a política monetária tem que se perguntar ao Banco Central. A autonomia do BC implica que ele toma as decisões que achar adequadas". Durante o encontro mantido na sexta-feira com empresários do setor de bens de capital sob encomenda, Mantega buscou tranquilizar os integrantes da Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib). "Tomamos algumas iniciativas que caminharam no sentido de moderar o crescimento mas o governo vai continuar a dar condições para que ele continue", declarou. "O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) será mantido em sua integridade e os financiamentos vão continuar a taxas de juros moderadas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)", comentou.