Título: Meirelles diz que o importante é perseguir a meta de 2009
Autor: Lorenzi, Sabrina; Americano, Ana Cecília
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/08/2008, Nacional, p. A5

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu que a inflação começou a ceder, mas em seguida disse que é prematuro avaliar os efeitos do aumento dos juros neste processo. Com a peculiar cautela que marca suas palavras, Meirelles falou do "início de um efeito que começa a acontecer". Logo depois, em entrevista coletiva realizada durante o X Seminário Anual de Metas para a Inflação, declarou que ainda é cedo para falar no fim do repique das commodities e dos reflexos da política monetária. "Temos tomado uma série de medidas visando que a inflação convirja para as metas. Essas medidas já datam de algum tempo. Existe um processo de defasagem, existe um início de um efeito que já começa a acontecer e, portanto, é crescente e vai dando resultado", afirmou, ao ser indagado se o pior da inflação já passou. Quando a pergunta foi sobre os efeitos da política monetáriasobre a inflação, Meirelles respondeu que o importante é o centro da meta, no próximo ano. "É prematuro ainda dizer até que ponto já existe reflexo (...). O importante é o centro da meta (em 2009)." Por meio de sua assessoria de imprensa, após o evento, disse que não houve contradição entre uma resposta e outra e sim que "estava falando empiricamente", sobre hípóteses e não especificamente sobre a conjuntura atual. "Não há contradição no que disse. Prematuro entretanto afirmar que as quedas nas projeções de inflação de 2008 e doze meses à frente já refletem as ações do Banco Central". Com queda na inflação ou não, o fato é que o presidente do Banco Central afirmou que o alvo não está nos índices de preços atuais, mas na inflação de 2009. Ele lembrou que uma das prioridades do presidente Lula é combater a alta dos preços e que o BC vai perseguir o centro da meta de 4,5% no ano que vem. "Atuação vigorosa" Segundo o presidente do Banco Central, a instituição fará uma "atuação vigorosa" para reverter as pressões inflacionárias e trazer a inflação de volta para a meta central. Meirelles defendeu, na abertura do seminário, a importância do regime de metas de inflação. "Ele não é uma panacéia econômica e não se pode esperar que, por si só, resolva problemas microeconômicos, estruturais ou setoriais", admitiu. Mas considerou o seu questionamento precipitado e equivocado. "O regime é particularmente apropriado para lidar com episódios de aceleração inflacionária como a atual." Durante a mesma coletiva, Meirelles disse que qualquer ajuda no combate à inflação é positiva, horas após o ministro Guido Mantega afirmar que poderá aumentar o esforço fiscal. "Qualquer ajuda é bem-vinda", disse Meirelles. Ele afirmou ainda que a estabilidade perseguida pelo BC permite o aumento do investimento na economia porque dá condições de planejamento ao empresariado. Meirelles aproveitou a ocasião para reprisar algumas de suas posições. "A melhor contribuição que a política monetária pode oferecer para o desenvolvimento econômico consiste na preservação de um ambiente de estabilidade e de previsibilidade", disse. "É forçoso reconhecer que a política de ajuste fino da demanda, que supostamente visa preservar um ritmo mínimo de atividade econômica, mostrou-se equivocada e extremamente custosa", acrescentou o presidente do BC. Para ele, o regime de metas de inflação a taxa de juros não deve promover o equilíbrio do balanço de pagamentos. "Essa é uma função exercida com muito mais eficiência pela taxa de câmbio", explicou. Meirelles defendeu, ainda, a flutuação da taxa do câmbio para promover o equilíbrio externo da economia brasileira. Para ele, o Brasil já foi um laboratório de experimentos de métodos heterodoxos para o controle da inflação. "Os resultados", resumiu, "foram devastadores". A elevação da inflação global, em função de pressões sobre preços de commodities e de evidentes descompassos entre o ritmo de crescimento da demanda e da oferta observados em diversos países tem proporcionado o questionamento de forma precipitada sobre o futuro do regime de metas, segundo Meirelles. "De fato esse regime tem se mostrado bastante eficaz e, ao requerer que os bancos centrais pelo mundo demonstrem o objetivo e o horizonte de atuação da política monetária, é particularmente apropriado para lidar com episódios de aceleração inflacionária como a atual."