Título: Saldo maior que a meta
Autor: Caprioli, Gabriel ; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 27/04/2011, Economia, p. 12

O aperto de cinto no Orçamento federal deste ano já se refletiu na administração pública. O governo central, formado por Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central, registrou, no mês passado, um superavit primário (economia de recursos para o pagamento dos juros da dívida) de R$ 9,13 bilhões, o segundo melhor desempenho para os meses de março, superado apenas em 2008 (R$ 10,6 bilhões). No trimestre, a poupança acumulou R$ 25,9 bilhões e criou uma folga para a equipe econômica, que já ultrapassou a meta de R$ 22,9 bilhões estabelecida para o período entre janeiro e abril.

Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, a antecipação decorre de uma política ¿contracionista¿, oposta à gastança promovida até o ano passado. ¿Em 2010, a atividade precisava de estímulos. Agora, vamos equilibrar o crescimento e agir para que esse avanço aconteça sem pressionar a inflação¿, justificou.

O resultado foi bem recebido pelo mercado, que utiliza o primário como parâmetro para avaliar a saúde fiscal do país. ¿Há uma indicação clara de esforço para cumprir a meta do ano (de R$ 117,9 bilhões), apoiada em uma receita crescente e algum controle das despesas. É um resultado significativo¿, considerou o economista-chefe da gestora de recursos Sul América Investimentos, Nilton Rosa.

Queda Augustin destacou que, além da arrecadação de impostos crescente, há uma redução efetiva no ritmo de ampliação dos gastos. No trimestre, as despesas recuaram 4,4%, se considerada a expansão da economia no período (alta real sobre o PIB). Somente em março, essa rubrica teve queda real de 17,9%.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, lembrou, porém, que é cedo para comemorar. ¿Apenas a metade da lição de casa está pronta. Mesmo que não admita, o governo elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e fazer superavit com mais imposto é fácil¿, disparou. Para ele, o saneamento das contas só estará bem encaminhado quando o resultado do setor público consolidado, incluindo estados e municípios, for positivo.

Em relação a isso, Augustin mandou um recado aos entes da União e afirmou que as condições para que a meta de superavit seja cumprida pelos governos regionais estão melhores em 2011, uma vez que as transferências federais cresceram 14,7% acima do Produto Interno Bruto (PIB) no trimestre. (GC)