Título: Brasil cai menos que outros países do Bric
Autor: Rebouças, Lucia
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/08/2008, Gazetainveste, p. B3

O saldo entre compras e vendas realizadas pelos investidores estrangeiros na Bovespa registrou saída recorde de R$ 7,626 bilhões no mês de julho. No ano, o saldo acumulado está negativo em R$ 2,05 bilhões, computando os R$ 12,23 bilhões em compras que os estrangeiros fizeram nas ofertas públicas de ações. Sem esse valor, o saldo do ano até julho estaria negativo em R$ 14,283 bilhões. No mês de julho, a entrada de dinheiro estrangeiro aconteceu em apenas dois pregões da Bovespa: dia 18, com R$ 125,1 milhões, e dia 30, com R$ 325,2 milhões. O movimento de saída de estrangeiros puxou a desvalorização do Ibovespa, o principal índice de preços da bolsa, que fechou o mês com queda acumulada no ano de 8,48%, a segunda pior de 2008, perdendo apenas para o mês anterior (junho) quando o índice caiu 10,43%. Nos últimos dois anos, os estrangeiros vem mantendo a liderança absoluta no ranking de participação nos negócios da bolsa. Em julho ficaram com 35,24% do volume total de R$ 124,17 bilhões. De acordo com balanço divulgado, ontem, pela Bovespa os investidores institucionais ficaram com o segundo lugar com 28,83% do total, seguidos pelas pessoas físicas, 24,47% as instituições financeiras, 9,10%; as empresas, 2,27% e outros com 0,09%. Cadê o dinheiro? A queda da bolsa tem desnorteado brasileiros que esperavam uma chuva de dinheiro estrangeiros, previsão animada pela obtenção do grau de investimento, o selo de segurança para investir no País. O selo, que finalmente veio no dia 30 de abril deste ano não impediu a maré de baixa que tomou conta da Bovespa. Assustados com o tempo seco de julho, muitos se perguntam onde está o dinheiro dos estrangeiros, sobretudo dos fundos de pensão que não podiam investir em países sem o grau de investimento. As previsões dos especialistas apontam para mudanças no clima, lembrando que os grandes fundos de pensão que ainda devem vir para o Brasil são mais lentos na tomada de decisões que investidores de curto prazo que costumam inundar os mercados emergentes a beira do grau de investimento. Mas são investidores que vem para ficar 10 anos ou mais. No momento há um movimento de abertura de escritórios que costumam se instalar para atendê-los, contam. Há também os que começam a achar que foi muito azar conseguir o grau de investimento num momento em que a crise do crédito de alto risco (subprime) desacelera a economia americana e afeta o crescimento ao redor do globo. Se olharmos mais de perto o que está acontecendo na globo, porém, a conclusão é o fato do grau de investimento ter atestado os bons fundamentos da economia num momento crítico no mundo foi pura sorte. Se não está evitando as perdas, está fazendo com que elas sejam muito inferiores a de outros países, como seus principais concorrentes nos mercados emergentes Rússia, Índia, China - que com o Brasil foram o grupo Bric - que já recebem o grau de investimento. O índice de ADR (recibos de ações) das empresas brasileiras, negociadas na Bolsa de Nova York, calculado pelo Bank of New York Mellon, está com desvalorização acumulada no ano de 8,78%. O índice russo perdeu 34,26%, a maior do grupo. Além disso, o índice brasileiro ficou com a sexta melhor performance no ranking dos 37 índices de ADR do banco. O ADR reflete o comportamento das bolsas locais e é um parâmetro que permite a comparação entre o comportamento dos vários mercados porque as ações estão na mesma moeda e na mesma bolsa. Na avaliação do economista Felipe Albert, da consultoria Tendências, o grau de investimento foi importante porque ratificou a solidez dos fundamentos da economia brasileira. "A estabilidade do real é uma prova de que o barco (a economia) está bem ancorado." Ele lembra ainda que há uma migração de recursos da bolsa para a renda fixa, dada a elevação das taxas de juros. A elevação das taxas de juros nem sempre é uma coisa saudável para o bom desempenho da economia. No caso, porém, é vista como medida profilática para evitar um surto inflacionário. Outro ponto importante a ressaltar é que a saída dos recursos não significa que os investidores estrangeiros estão indo embora do Brasil. O HSBC, um dos maiores custodiantes de recursos externos no Brasil, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), está com movimento positivo. Segundo Roberto Cortese, diretor responsável pela custódia internacional do banco, informou que na renda variável a saída de estrangeiros do País praticamente empatou com o ingresso de investidores, em julho. "Tive um movimento de venda, mas a compra foi forte. Os estrangeiros estão rodando o portfólio, comprando papéis interessantes (ele não diz quais), nitidamente reduzindo a exposição em papéis mais líquidos", afirma. De acordo com o balanço da Bovespa, em julho as ações que registraram maior giro financeiro foram: Petrobras PN, com R$ 17,97 bilhões; Vale PNA, com R$ 17,30 bilhões; Vale ON, com R$ 4,31 bilhões; CSN ON, com R$ 3,98 bilhões; e Bradesco PN, com R$ 3,89 bilhões. Na renda fixa, conforme Cortese, julho foi muito positivo e entrou mais dinheiro estrangeiro do que saiu. "Houve um ingresso muito grande de um novo cliente. O dinheiro que ele trouxe é duas vezes superior volume de compras de ações realizado em julho", disse sem revelar os números por motivos de sigilo de concorrência.