Título: Dantas está angustiado e quer desabafar, diz advogado
Autor: Ribeiro, Fernando Taquari
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/08/2008, Direito Corporativo, p. A10

O banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, deverá ser aconselhado pelo seu advogado Nélio Machado a exercer o direito de manter-se calado no depoimento que prestará hoje na Justiça Federal de São Paulo. Mas a decisão ainda está em aberto, no que depender do executivo já que, segundo Machado, Dantas está com "angústia existencial" e quer "desabafar". Dantas é acusado, junto com o ex-presidente da Brasil Telecom Participações Humberto Braz, e o consultor Hugo Chicaroni, de suposta tentativa de suborno a Vitor Hugo Rodrigues Alves Ferreira, delegado da Polícia Federal que participou da Operação Satiagraha e desvendou um esquema de desvio de recursos públicos, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. De acordo com a denúncia, Dantas teria ordenado Braz e Chicaroni a oferecer um US$ 1,2 milhão ao delegado para que a PF deixasse de investigar o banqueiro e seus familiares. "Ele (Dantas) quer botar para fora tudo o que ele passou, tudo que padeceu. Mas eu tenho que ter uma postura racional e não emocional. Como advogado me vejo na contingência de aconselhar tecnicamente meu cliente a silenciar", afirmou. "Por outro lado, ele também tem uma certa angústia existencial compreensível de deixar claro, que na realidade, ele é vítima de armação que não vem de agora. Isso tem cinco anos e a oportunidade de esclarecer isso seria conveniente para a defesa", acrescentou o advogado ao se referir a disputa societária pela BrasilTelecom. Segundo ele, segmentos do "poder" tiveram participação decisiva na disputa pela Brasil Telecom. "Basta ver os nomes daqueles que estavam mais veiculados aos interesses dos fundos de pensão (parte interessada na compra da empresa), daqueles que quiseram romper o contrato (de controle da tele, sob comando do banqueiro) e pessoas da Telecom Itália". A defesa de Dantas alega que o áudio da gravação do encontro entre Chicaroni, Braz e o delegaFerreira estaria inaudível. Nesta ocasião, segundo a acusação, teria acontecido a tentativa de suborno. Para basear a defesa, Machado pede a transcrição das fitas. O advogado também procurou desqualificar o processo conduzido pelo juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal, que ordenou as prisões da Operação Satiagraha. "A aparência é que já houve um pré-julgamento. Na cabeça dos acusadores e do juiz, na minha ótica, essa tendência está clara", disse. Machado disse que pediu a De Sanctis arguição de suspeição. Isto é, a retirada do magistrado do caso. O juiz repudiou o pedido, mas o encaminhou ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região. Ontem, em depoimento na Justiça Federal de São Paulo, Humberto Braz exerceu o direito e permanecer em silêncio. Chegou ao local às 12h30, algemado. Segundo a defesa de Braz, o ex-presidente da Brasil Telecom teria procurado Chicaroni porque temia ser alvo de campana montada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). "Humberto Braz fora vítima dias antes da campana de membros da Abin e isso preocuparia qualquer pessoa. Por conta disso ele contatou advogados que localizaram uma pessoa (Chicaroni) que prestaria serviços a Abin para descobrir porque ele estava sendo acompanhado pela agência. Ele temia que poderia ser seqüestrado", alegou Renato Moraes, advogado do depoente de hoje. Moraes argumenta que não há nenhum diálogo entre Dantas e seu cliente que prove a negociação para o pagamento de propina ao delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves Ferreira. "Qualquer interpretação nesse sentido é unilateral da Polícia Federal", observou. Para ele, houve uma cilada. "Houve uma provocação da autoridade policial que levou àquela situação - encontro no restaurante onde teria ocorrido a suposta tentativa de suborno - e por conta disso nós precisamos do áudio", disse Moraes. O Operação Satiagraha prendeu além de Braz e Chicaroni, que continuem presos, Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, todos soltos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Protógenes deixou o caso alegando necessidade de freqüentar um curso de aperfeiçoamento na Academia Nacional de Polícia, mas a versão de que foi afastado ganhou força depois de acusações de prática de excessos na investigação.