Título: Para analistas, barril pode cair ainda mais e atingir os US$ 90
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/08/2008, Infra-estrutura, p. C5
É consenso no mercado de petróleo que a desaceleração da economia mundial é o principal fator para a redução no preço do barril, que já recuou quase US$ 30 na bolsa de Nova York no último mês e pode cair ainda mais, segundo avaliação dos especialistas. "O mercado mundial percebeu que a recessão chegou. A inflação está subindo e os juros também. Esse movimento gera queda no consumo do petróleo, o que provoca redução no preço do barril", justifica Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cbie). José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, concorda com Pires e acrescenta: "A economia mundial está em desaceleração e a demanda por commodities tende a cair. Por isso, a baixa nas cotações". "As quedas do óleo vão ser maiores ou menores conforme o diagnóstico dos analistas em relação à recessão na economia", enfatizou Pires. Além disso, o diretor do Cbie ressalta que os Estados Unidos, os países da Europa e a China estão aplicando cada vez mais programas para reduzir o consumo de combustíveis derivados do petróleo, o que traz influências para o preço. Segundo Gonçalves, as altas no petróleo estavam ocorrendo por três motivos: crescimento na economia mundial; enfraquecimento do dólar e o aumento no preço das commodities a partir de agosto do ano passado, que passaram a ser vistas como reserva de valor aos investidores. "Por este cenário, o barril chegou a US$ 150 e nesse patamar o risco de ver uma baixa ou uma estabilização é maior, o que retrai os investimentos nesse setor", diz Gonçalves. Pires, do Cbie, acredita que os preços do barril bateram no teto quando alcançaram US$ 150 e, segundo prevê, a cotação do petróleo ficará entre US$ 90 e US$ 100 nos próximos anos. "Porém, se a recessão for maior que o imaginado, a queda será ainda mais expressiva", afirma. Isso, segundo Pires, poderá gerar ainda conflitos dentro da Opep (Organização de Países Exportadores), "já que os países-membros do cartel tem intenções políticas diferentes". Porém, o especialista não acredita numa recessão muito forte, já que as poupanças dos países asiáticos ainda estão bastante recheadas. O economista-chefe do banco Fator segue a mesma linha de Pires e prevê o preço do petróleo entre US$ 90 e US$ 110, sem, porém, estima o período. "Acredito em algo mais próximo de US$ 90 do que de US$ 110", diz ele. E completa: "Tudo depende do ritmo da desaceleração da economia". Contudo, o especialista afirma que se o barril subiu de US$ 60 para US$ 150 em um ano e, em seguida, caiu US$ 30 em um mês, não se pode duvidar de qualquer oscilação. Estoques e mais quedas Os preços do petróleo continuaram em queda ontem em Nova York, depois do anúncio de um aumento surpreendente nas reservas de petróleo nos Estados Unidos (EUA), maior consumidor mundial de energia, apesar de uma queda maior do que a esperada nas reservas de gasolina. Na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex), o barril de West Texas Intermediate (WTI) para entrega em setembro fechou em US$ 118,58, perda de US$ 0,59 em relação ao fechamento do dia anterior. Em Londres, o contrato setembro do petróleo tipo Brent caiu US$ 0,59, para US$ 117. As reservas norte-americanas de petróleo tiveram um aumento de 1,7 milhão de barris, alcançando 296,9 milhões na semana que terminou no dia 1° de agosto, segundo o Departamento de Energia. As estimativas dos analistas apontavam para o contrário: uma queda de 200 mil barris. "Os estoques de petróleo se recuperaram, ao contrário da tendência de estagnação, porque a atividade das refinarias está muito abaixo da média observada nos últimos cinco anos", explicou Antoine Halff, da Newedge Group. No sentido contrário, os estoques de gasolina diminuíram como resultado das longas viagens de automóveis comuns durante o verão norte-americano. As reservas deste combustível caíram em 4,4 milhões de barris, chegando a 209,2 milhões, mais do que o 1,5 milhão esperado. A queda, pelo segundo ano consecutivo, "explica-se por uma redução nas importações, o que corresponde a uma baixa na demanda", disse Halff. O temor de um maior encolhimento da demanda em conseqüência da desaceleração da economia mundial é visto pelos analistas como a causa da recente queda de preços. O barril do petróleo perdeu quase US$ 30 desde o seu recorde absoluto alcançado em 11 de julho em Nova York, de US$ 147,27. Apesar disso, "os preços da gasolina nos EUA baixaram 6% desde meados de julho e a demanda pode voltar a subir nas próximas semanas", afirmou Thierry Lefrançois da Natixis. "Os fundamentos se mantêm os mesmos: relação oferta/demanda tensa, temores geopolíticos, aumento de demanda em países emergentes", disse.