Título: Documentos apontam para novas fraudes financeiras
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Fonte: Gazeta Mercantil, 17/09/2004, Política, p. A-8

Os documentos que a Promotoria de Nova York enviou para a CPI do Banestado e o Ministério Público podem desvendar uma das maiores fraudes financeiras da história. Na lista de operações suspeitas aparecem dezenas de transações envolvendo o nome do Opportunity Fund, do Grupo Opportunity, que pertence ao banqueiro Daniel Dantas.

A lista traz as transações financeiras que alimentaram contas no MTB Bank, em Nova York. Este foi o canal utilizado por mais de 100 doleiros brasileiros para lavar dinheiro e sonegar impostos de grandes empresários e políticos, utilizando-se de laranjas.

Reportagem publicada ontem pelo jornal O Estado de São Paulo mostra que o Opportunity movimentou R$ 16 milhões em remessas pelo MTB Bank.

Um dos empresários que aparecem fazendo operações financeiras pelo Opportunity, Romeu Chap Chap, culpou o banco de Daniel Dantas por fazer remessas por intermédio de doleiros. Presidente do Sindicato da Construção Civil de São Paulo, Chap Chap se considera "vítima" por ter feito uma "escolha errada" ao optar pelo Opportunity.

"Quem faz negócios com doleiros é o Opportunity, que também fez as operações de remessas para o exterior sem que essa seja minha decisão", disse Romeu Chap Chap ao Estadão.

O banco de dados enviado pela Promotoria de Nova York contém o registro eletrônico de 534 mil operações financeiras realizadas pelo MTB Bank, onde constam valores, números de contas e datas dos depósitos. No total, foram movimentados US$ 17 bilhões entre 1997 e 2003.

Para um dos procuradores que investigam o banqueiro, o mais grave é que a denúncia pode comprovar que o Opportunity Fund movimentou irregularmente dinheiro de brasileiros no exterior. Este dinheiro acabou retornando ao Brasil para controlar empresas brasileiras ilegalmente, sem o pagamento de impostos.

O nome do Opportuniy Fund aparece ainda lista de remessas feitas pelo Banestado. O Ministério Público tem registros de operações do Opportunity no Chase Manhattan Bank, também utilizado como canal para lavagem de dinheiro por doleiros brasileiros.

As transações do MTB em que aparece o nome do Opportunity foram registradas entre 1997 e 2000. Em um dos extratos bancários enviados pela Promotoria de Nova York, aparecem US$ 3 milhões de remessas da Depolo Corporation para o Opportunity. A Depolo pertenceria ao doleiro Dario Messer, que atuou no propinoduto montado pelos fiscais do Rio, segundo informou recentemente a Folha de São Paulo.

O MP já pediu à Justiça Federal a quebra do sigilo financeiro e comercial do Opportunity Fund nas ilhas Cayman, para que as autoridades enviem a lista de todos os investidores do fundo. A documentação enviada pela Promotoria de Nova York traz os nomes de várias pessoas que seriam brasileiras, investindo no fundo.

Uma das transferências em que o Opportunity Fund aparece como beneficiário, o dinheiro passa pelo MTB Bank e vai para outro banco, onde o suposto beneficiário final é Fernando Silva. Outras remessas foram feitas pelo Opportunity, via MTB Bank, para os nomes de Eduardo Teixeira e Alexandre Cunha, como supostos beneficiários.

Além do envolvimento com remessas irregulares, Daniel Dantas é investigado por seu envolvimento no esquema ilegal de espionagem da empresa Kroll Associates, que envolveu os nomes de representantes do Judiciário do Rio de Janeiro e autoridades do governo federal. O vice-presidente de Segurança da empresa Telecom Itália, o italiano Angelo Jannone, acusou Daniel Dantas de orientar, ordenar e coordenar pessoalmente o esquema de espionagem.

A publicação da lista de pessoas envolvidas com remessas pelo MTB causou reações ontem no Congresso. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) informou que seu nome não está envolvido com as remessas ilegais. A lista da Promotoria incluiria remessas em nomes de parentes de Tasso. "É importante descobrir quem montou todo esse banco de dados, certamente com interesses escusos", disse Jereissati.

A assessoria de imprensa do Opportunity foi procurada ontem em São Paulo, mas nem o banco e nem Daniel Dantas se manifestaram.