Título: Demanda por empréstimo pode fazer banco aumentar orçamento
Autor: Americano, Ana Cecilia
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/08/2008, Nacional, p. A4

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) poderá superar os R$ 80 bilhões em desembolsos previstos em seu orçamento para 2008, caso o ritmo atual da demanda por empréstimos se mantenha. No primeiro semestre deste ano a instituição liberou R$ 38,6 bilhões, um crescimento de 56,2% ante o mesmo período de 2007. A perspectiva, bem positiva, levará o presidente da instituição, Luciano Coutinho, na segunda-feira a pedir ao Conselho Administrativo para trabalhar com mais recursos e, assim, ter condições de atender aos pedidos crescentes. De acordo com os resultados divulgados, o BNDES quebrou os seus próprios recordes, tanto no valor das aprovações, quanto no das liberações. No acumulado de 12 meses encerrado em junho, as primeiras somaram R$ 111,8 bilhões, enquanto os desembolsos totalizaram R$ 78,8 bilhões. Nesse mesmo período, os valores desembolsados para investimentos em infra-estrutura aumentaram 80,2%, para R$ 32,5 bilhões, e superaram os voltados à indústria, de R$ 31,2 bilhões, que cresceram no período 5,3%. "A infra-estrutura é muito intensiva em capital e em crédito", explicou o economista. "E essa ascensão dos desembolsos para a infra-estrutura está relacionada ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)", acrescentou Coutinho. Até o momento, a carteira do BNDES relativa ao PAC já contratou e aprovou obras num total de R$ 34,7 bilhões. Mas o impacto do banco na área é ainda maior, se forem levadas em conta os projetos privados do PAC. "Na prática, o setor privado nesses projetos é o empreendedor, mas o grosso dos recursos vem do BNDES", frisou o presidente do banco. Segundo Coutinho, dos R$ 78,8 bilhões liberados entre julho de 2007 e junho de 2008, a quase totalidade dos recursos foi destinada ao investimento produtivo, com um decréscimo de outras áreas, como o financiamento ao capital de giro e à exportação. Levando-se em conta só o primeiro semestre de 2008, a infra-estrutura recebeu R$ 15,2 bilhões em investimentos do BNDES. Mas, de acordo com Coutinho, o valor tende a subir neste semestre, quando os investimentos nas usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau se efetivarem. Novos projetos No conjunto de novos projetos em infra-estrutura estão diversas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), grande projetos em energia elétrica ¿ a exemplo de Belo Monte, no ano que vem, uma usina de 11 mil megawatts (MW) ¿, linhas de transmissão de energia do Porto de Madeira para Porto Velho e Araraquara, concessões rodoviárias, ferrovias, além de investimentos na produção de etanol e açúcar. Na lista de Coutinho constam, ainda, um super-aeroporto de cargas no Rio Grande do Norte; o trem de alta velocidade entre Rio e São Paulo; e um corredor bioceânico, ligando o Atlântico ao Pacífico, entre o Chile, em Antofagasta (onde há um porto de águas profundas), e Santos (SP) ou Paranaguá (PR). "Temos várias alternativas para esse projeto, que se encontra ainda em estágio muito preliminar. Vamos começar a estudar o assunto a pedido de uma comissão interministerial", comentou o presidente do banco. Em suma, informou, os investimentos em infra-estrutura nos próximos dois anos deverão se manter altos. Demanda aquecida Num cenário de expansão da economia brasileira, Coutinho acredita que, dado o fato de o segundo semestre ser tradicionalmente mais forte, é possível que a demanda de 2008 ultrapasse o funding de que o BNDES dispõe para o ano. Segundo ele, o crescimento dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) tem sido firme, mas o aumento da receita não tem acompanhado a demanda. O banco, portanto, já estuda negociar mais recursos com o governo ou captá-los no mercado ¿ tanto interno quanto externo. Segundo ele, o BNDES pretende explorar "ao máximo" a captação de recursos no mercado. Mas o BNDES deverá esperar até, pelo menos, setembro e outubro, quando o cenário for mais favorável para agir. O intuito é garantir uma captação mais "eficiente", procurando minimizar o custo da captação. "Como o mercado de capitais se encontra muito volátil e a Selic está alta, o mercado de crédito está mais oneroso neste momento", explicou ele, justificando a espera. O presidente do BNDES explicou que a necessidade de novo funding tenderá a alterar a relação de 80% dos desembolsos remunerados pela Taxa de Juros de Longo Prazo (a partir dos recursos provenientes do FAT) e 20%, remunerados por um mix que inclui o INPC ou uma cesta de moedas. "Na medida em que o custo na margem sobe, estamos também diferenciando o mix da oferta de recursos", afirmou. Na média, informou, o custo da oferta está mais alto devido à pressão da demanda. De acordo com o executivo líder do BNDES, com as novas captações, a relação tenderá a ficar na base de 70% pela TJLP e o restante por outras taxas. Segundo ele, os recursos da TJLP são considerados nobres e estão sendo seletivamente destinados a áreas consideradas prioritárias, como novas plantas industriais, novas obras em infra-estrutura e projetos de inovação, principalmente em áreas mais carentes no Norte e no Nordeste.