Título: Parcerias podem movimentar US$ 2,5 bi entre Brasil e China
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/08/2008, Nacional, p. A7

Os empresários brasileiros não deveriam gastar tanto tempo discutindo salvaguardas contra a entrada de produtos chineses, mas se preocupar em ganhar competitividade para a disputa no mercado internacional. Na avaliação de Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China (CCIBC), há mais nichos de mercado, parcerias e oportunidades de negócios a ser exploradas na China do que entraves comerciais. Segundo Tang, a Câmara participa de encontros de aconselhamento de operações bilaterais que somam US$ 2,5 bilhões. Neste pacote, estão incluídas seis companhias brasileiras interessadas em comprar empresas chinesas, e parceiros interessados em investir em vidros planos, no setor automotivo e no segmento de produtos bioquímicos. Um dos projetos será desenvolvido no setor do agronegócio, comenta Tang. A operação envolve um grupo chinês da área de bioquímica e um produtor de açúcar e álcool brasileiro. As companhias planejam montar uma usina para produção de aminoácidos a partir do melaço de cana. A unidade deverá absorver US$ 150 milhões em investimentos e os planos contemplam a construção de uma segunda fábrica do mesmo porte, informou o presidente da Câmara, sem revelar os nomes das empresas. "A China vai investir cada vez mais no Brasil para poder assegurar um fluxo contínuo de produtos e garantir o crescimento continuado", afirma. Na pauta de projetos que contam com apoio da CCIBC, cerca de US$ 1,5 bilhão correspondem a acordos na área de bens de capital. O desequilíbrio na balança comercial entre os países não representa um problema e deve ser avaliado com base no perfil das importações brasileiras compostas, em grande parte, por máquinas e equipamentos. As vendas de produtos chineses para o mercado brasileiro somaram US$ 12,6 bilhões em 2007. O Brasil embarcou US$ 10,7 bilhões no mesmo período. O déficit de US$ 1,87 bilhão "é uma boa notícia para o País porque uma boa parte se refere a bens de capital", avalia Tang. A corrente de comércio entre os dois países deverá movimentar US$ 30 bilhões em 2008, nas contas do presidente da Câmara. Com o dólar baixo, comprar mais da China, equipar as indústrias a custos menores e abrir novos postos de trabalho é uma oportunidade a ser aproveitada pelo Brasil. "Com o câmbio favorável, o Brasil tem de importar. Não se pode jogar a culpa disso sobre a China", afirma Tang. O hábito de se discutir o déficit da balança comercial , sem considerar o perfil das trocas comerciais, tende a ser alterado no País, segundo Rodrigo Tavares Maciel, secretário executivo do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC). Nos encontros mantidos com os ministros do Comércio, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e Celso Amorim, das Relações Exteriores, os integrantes do conselho debateram esta questão e acreditam que, dentro do governo, já existe uma nova visão dos negócios entre os países. "A China é importador estratégico", diz Maciel. E existe disposição dos ministros em aumentar as missões oficiais ao país. Em 2007 a China importou produtos no valor total de US$ 955,8 bilhões de fornecedores internacionais, informa Maciel. A compra de insumos no exterior faz parte da estratégia chinesa para o país se manter competitivo. De acordo com o secretário executivo do CEBC, as trocas comerciais com países da União Européia mostram que 47,9% das exportações chinesas correspondem a máquinas e equipamentos e 59,4% do que a China importa dos europeus são bens de capital. "A China é um fornecedor estratégico e máquinas de qualidade", afirma Maciel. Este recurso é utilizado por várias empresas brasileiras que compram componentes eletrônicos chineses para fabricar produtos acabados no Brasil e garantir a capacidade de competir no mercado norte-americano. O Brasil, na opinião de Tang, precisa eliminar os entraves para seu crescimento. Com a carga de tributos, legislação trabalhista ultrapassada, juros altos e excessiva burocracia não é fácil ser competitivo, assinala. As questões relativas a direitos trabalhistas, baixo custo de mão-de-obra e falta de controle ambiental não são suficientes para explicar o crescimento chinês, segundo Tang. O país tirou 400 milhões de pessoas da pobreza e tem de cuidar da inclusão social de mais 800 milhões de cidadãos. Precisa garantir o fornecimento de energia elétrica e enfrenta a falta de terras agriculturáveis e de recursos naturais. A China conta com US$ 1,7 trilhão de reservas. Com a adição de US$ 200 bilhões de reservas de Hong Kong e Macau, os chineses acumulam o total de US$ 1,9 trilhão para resolver seus problemas, inclusive os que enfrenta com a poluição.