Título: Desaceleração de índices divide opiniões sobre IPCA em 2008
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/08/2008, Nacional, p. A5

A desaceleração recente do preço das commodities e seu impacto relevante sobre os índices de preços brasileiros já divide opiniões de analistas. Para alguns, aumentaram as chances de a inflação anual medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficar dentro dos limites da meta. Outros, porém, seguem acreditando no estouro do objetivo, mesmo que não em um patamar muito acima. Já para 2009, há consenso claro: inflação bem-comportada, quase no alvo. A meta para este e os próximos dois anos é de 4,5% com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Dois economistas de instituições que estão no chamado Top Five do Banco Central (BC), ou seja, que mais aproximam suas projeções dos dados consolidados reviram os números. Mariana de Oliveira Costa, economista-chefe da Link Corretora, baixou de 6,6% para algo entre 6,3% e 6,4% a estimativa para o índice oficial no final deste ano. "Talvez o pico para alimentação tenha ficado para trás", diz. "Existe agora maior probabilidade que a inflação não passe do teto da meta". Outro economista-chefe, agora da Concórdia Corretora, Elson Teles, vai na mesma direção. Pelos seus cálculos, no fechamento de 2008, o IPCA deve ficar em 6,30%, ante 6,50% previstos anteriormente. "Este é um momento favorável, mas sem garantias de que esteja se estabelecendo uma tendência", pontua. Ambos vêm como um componente importante o recuo do preço das commodities, que funciona como impacto externo nos índices brasileiros. Além da maior oferta dos produtos e forte queda na cotação do petróleo, está havendo uma redução das posições de investidores em ativos atrelados às commodities. Porém, dizem os dois economistas, ainda há pressões internas há acontecer no segundo semestre. Mariana coloca na conta a pressão que pode vir dos dissídios de classes com maior número de trabalhadores, como bancários e metalúrgicos. Aliado a isso, os reajustes dos preços administrados, pois o IGP segue alto no acumulado do ano e em 12 meses. Teles complementa que existe arrefecimento da economia de vários países do mundo, mas, não, no Brasil. "Ainda temos pressão de demanda, pois estávamos crescendo mais forte do que parece ser nosso Produto Interno Bruto (PIB) potencial, que, ao que parece, não é 5%". Têm opiniões contrárias, ou seja, na direção do estouro da meta, a LCA e a Austin Rating. Segundo o economista Fábio Romão, da LCA, o indicador ficou muito próximo da estimativa da consultoria, de 0,55%, e isto foi suficiente para suportar a previsão de inflação em 6,8%. Para Romão, apesar do recuo verificado nos alimentos, há reajustes dos preços administrados a longo do semestre que podem incomodar e diminuir a possibilidade de uma queda significativa da taxa anual. "Há uma hipótese de reajuste de combustíveis no final do ano. Nesta projeção está contido este reajuste. Se não vier, vamos rever o índice para baixo", diz, já indicando para 6,5%. Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o resultado do IPCA no mês de julho ainda não permite considerar que a meta de inflação será cumprida neste ano. Isso porque, explica em nota, o dado ainda está muito acima da variação média observada nos anos anteriores, bem como a pressão de alta dos preços das commodities ainda persiste, mesmo que moderadamente, implicando ainda em resultados acima da média para os últimos cinco meses do ano. Na avaliação do economista, permanece alto o risco de o Banco Central não conseguir cumprir a meta de inflação em 2008. Na avaliação de Agostini, o atual resultado do IPCA, bem como o cenário prospectivo para o índice, já havia confirmado que o teto da meta de inflação de 2008 (6,5%) seria superado, mesmo com a autoridade monetária tendo acelerado o passo na alta de juros na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). "Refizemos o cenário básico para o IPCA em 2008, que foi apresentado em maio e indicava alta do IPCA, em torno de 6,6%, mas agora já chega a 7%", ressalta Agostini. O cenário da Austin leva em conta a dinâmica histórica dos preços no Brasil e taxa de câmbio média de R$ 1,64 para 2008. Para os preços monitorados, consideramos aumentos de 1% para telefonia e 2,5% para energia elétrica (acumulado no ano). O aumento dos preços de alimentos para o período de agosto a dezembro foi estimado em 3,0%. Com isso, o IPCA, ao fim de 2008, chega a 7%, ou seja, supera o teto da meta de inflação deste ano em 0,5 ponto percentual. Índices desaceleram Na sexta-feira, o resultado de quatro índices inflacionários surpreendeu positivamente os analistas. O IPCA teve alta de 0,53%, menor 0,21 ponto percentual em relação a junho (0,74%). No acumulado do ano chega a 4,19% ante 2,32% de igual período de 2007. Em 12 meses, a elevação é de 6,37%, acima dos 6,06% no período imediatamente anterior.A coordenadora de Índices do IBGE, Eulina dos Santos, disse acreditar que a queda entre junho e julho tenha sido muito significativa. No entanto, esclareceu que esse recuo não pode ser visto como tendência. Já a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) que, assim como o IPCA, é medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fechou julho com uma alta de 0,58%, resultado 0,33 ponto percentual inferior aos 0,91% do mês anterior. De janeiro a julho, o INPC acumula alta de 4,87%, resultado superior aos 2,53% referentes ao mesmo período de 2007. Em 12 meses, acumula alta de 7,56%, acima dos 7,28% dos 12 meses imediatamente anteriores. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) ficou em 0,44% na primeira prévia de agosto, ante 0,53% da pesquisa anterior. O IPC-S também mostrou acomodação nos preços dos alimentos que, na média, estão subindo menos (0,40%), com taxa inferior à metade da registrada na pesquisa encerrada em 31 de julho (0,83%). O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) registrou deflação na primeira leitura de agosto. O índice caiu 0,01% na abertura do mês, ante alta de 1,55% no mesmo período de julho. No fechamento do mês passado, o IGP-M avançou 1,76%. Entre os componentes do IGP-M, o Índice de Preços por Atacado (IPA) caiu 0,24% na primeira leitura de agosto, ante avanço de 1,97% na prévia de julho.