Título: Câmbio leva empresas a reduzir nível de emprego
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/08/2008, Nacional, p. A6

A valorização do real frente ao dólar já provoca demissões em setores industriais tradicionalmente afeitos à exportação. Áreas mais sensíveis às variações cambiais, entre elas a de madeira processada, estimam que, de maio a julho, as demissões atingiram 15 mil trabalhadores. Nas produtoras de calçados, vestuário e têxteis, ocorre a extinção de aproximadamente 200 mil vagas a cada ano. Nas fábricas, os empregados já sabem: caso haja a manutenção das taxas de câmbio, o desemprego virá em 2009. "Nosso volume físico exportado tem caído, em média, 17%. Com tal encolhimento, produzimos menos e temos menor necessidade de mão-de-obra", explica Antonio Rubens Camilott, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada (Abimci). O contingente empregado pelo setor é de 2 milhões de trabalhadores. O executivo calcula que, se confirmadas as previsões de valorização do dólar, a escalada de demissões pode ser estancada ainda neste ano, no fim do quarto trimestre. "As condições de competitividade estão permitindo uma formalização muito aquém do que poderíamos gerar", diz Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). "Em vez de criar, no mínimo, mais de 160 mil empregos diretos por ano no setor, ficaremos com patamares reduzidos de 30, 40 mil postos de trabalho este ano", diz o executivo. "A continuar o câmbio apreciado em 2009, com juros altos trazendo redução no nível de atividade econômica interna e queda de consumo, poderemos ter sim demissões formais". Tidos como os mais voláteis da economia ¿ por refletir mais rapidamente as variações cambiais ¿ estes setores representam uma fatia específica dentro do universo formado pelos quase 30 segmentos da indústria nacional. Se ocorrer uma mudança na política cambial, serão os primeiros a ser beneficiados. "Com esta taxa de câmbio, não conseguimos ter preço competitivo no mercado internacional, então deixamos de exportar produtos manufaturados. Aumentamos o preço mas reduzimos o volume", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Segundo ele, o câmbio é tão nocivo para os exportadores que está estimulando a exportação de capital do Brasil. "Atualmente muitas empresas têm comprado ou aberto filiais no exterior para produzir o que fabricavam no Brasil. São justamente aqueles que gostaríamos que se desenvolvessem no País, como fabricantes de carrocerias de caminhões e manufaturados de borracha, porque geram mais emprego". Para desatar o nó cambial, Paulo Mol, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI) elege como prioridade a política monetária. "A taxa de juros mais alta acaba sendo um estímulo ainda maior à entrada de dólares no Brasil em busca do retorno mais fácil e alto. Isto acaba pressionando a elevação do real". Segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com a valorização do real, as indústrias com maior rentabilidade são as siderúrgicas, extrativa mineral, de autopeças, químicas, metalúrgicas, material de transporte e fertilizantes. Na contramão, os setores que amargam menor rentabilidade são os de celulose, petroquímico, vestuário, minerais não metálicos, têxtil, materiais elétricos e produtos alimentares. A análise de 53 trimestres (que cobre um período de aproximadamente 13 anos) de estatísticas sobre rentabilidade mostra que o câmbio baixo está associado ao reduzido retorno sobre o capital e à desaceleração do crescimento econômico. Segundo a entidade, "sai fortalecida a tese segundo a qual os ganhos econômicos da queda do dólar não compensam, no médio prazo, seus prejuízos". Para 2009, os resultados recentes da balança comercial ¿ com queda estimada de 42,2% no superávit em 2008 frente à 2007 ¿ aparecem como fator decisivo nos rumos a ser trilhados. "O setor externo já está gerando déficits muito fortes e isto pode balancear esta tendência de valorização da nossa moeda. Pode ser que R$ 1,50 seja o nível abaixo do qual a cotação do dólar não volte", diz Júlio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial (Iedi).