Título: Efeito commodity pode mudar ranking de destino de exportações
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/08/2008, Nacional, p. A6

A China deve passar a Argentina e ocupar o segundo posto no destino das exportações brasileiras já neste mês. A estimativa é do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, , para quem ainda poderá haver mais mudanças nessa estrutura de acordo com a variação do preço das commodities. Nesta década, a trajetória do país asiático no ranking brasileiro foi impulsionada pela alta de preços dos produtos básicos e pela maior aproximação diplomática. Em 1999, era a 15 economia do mundo para onde os empresários brasileiros exportavam seus produtos. A partir de 2001, coincidindo com o início do movimento de fortalecimento das cotações internacionais, chegou à 6 posição e daí se consolidou entre os cinco maiores destinos de venda do Brasil, sendo que nos últimos quatro anos vem ocupando o 3 lugar. Outra mudança significativa, segundo Castro, pode ocorrer em breve com o líder das importações brasileiras, os Estados Unidos. O executivo explica que o país tradicionalmente sempre representou o maior peso, já tendo chegado a 30% de participação na pauta exportadora. Essa relação recuou para 14,3% pelos dados de janeiro a junho de 2008 divulgados pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e pode cair ainda mais levada pelo arrefecimento do preço do petróleo. Segundo o especialista em comércio exterior, antes de todo esse processo de alta das cotações de commodities, os manufaturados eram os itens brasileiros exportados aos Estados Unidos mais significativos em valores. "A pauta mudou e hoje os norte-americanos compram prioritariamente commodities, como petróleo", diz. "Calçados, que sempre exportávamos, sumiram da lista dos dez principais produtos", complementa, explicando que a valorização do real frente ao dólar -que ocorre continuamente desde 2004 -.fez com que os empresários calçadistas perdessem competitividade para continuar exportando a esse destino. Diante desse quadro, o executivo prevê que, se o preço do petróleo seguir em queda, poderá levar consigo a posição dominante dos Estados Unidos. Celeiro agrícola A conjuntura fez o Brasil exportar muito mais produtos básicos do que manufaturados, o que, pela avaliação do vice-presidente da AEB, deixa a pauta instável e, conseqüentemente, o País mais vulnerável. No entanto, afirma que o País ainda tem muito a expandir para suprir a demanda mundial desses produtos. Castro fez cálculos comparando a densidade demográfica dos quatro países que compõe o BRIC. O Brasil possui 22,1 habitantes por quilômetro quadrado. A Rússia, 8,3 hab/km, a Índia, 337,3 hab/km e a China, 137 hab/km. Assim não há espaço agricultável nos outros países, pelo tamanho da população na China e Índia e pelo gelo na Rússia. "Se o Brasil souber programar dá para plantar muito, independentemente da área da Amazônia", diz. "Em vez de o Brasil exportar soja em grão, açúcar, café e fumo in natura, que venda esses produtos já beneficiados."