Título: Venda de medicamentos genéricos aumenta 45%
Autor: França, Anna Lúcia
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/08/2008, Industria, p. C8

Todo o mês a empregada doméstica Sônia Maria Caldas César compra remédios para controlar sua pressão. Na prescrição está o princípio ativo e ela já se acostumou a pedir o medicamento genérico. Sônia é apenas uma entre tantos brasileiros que adotaram os genéricos nos últimos anos. Os números do mercado só confirmam a aceitação. No primeiro semestre de 2008 a venda de medicamentos genéricos cresceu 45,8% em faturamento, passando dos US$ 681,4 milhões registrados nos primeiros seis meses de 2007 para US$ 994,1 milhões este ano. Ao todo, foram vendidos 128,3 milhões de unidades ante as 111,5 milhões registradas em igual período de 2007, totalizando um aumento de 15% em volume, conforme dados da IMS Health, instituto que audita o mercado farmacêutico no Brasil e no mundo, e divulgados pela Associação Brasileira das Indústria de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos). Com isso, a participação dos genéricos encerrou o primeiro semestre de 2008 em 17,1%, considerada histórica. E a estimativa é de chegar até 2010 a uma fatia de um terço do mercado, segundo o vice-presidente da PróGenéricos, Odnir Finotti. Segundo os dados do IMS, o crescimento dos genéricos fica acima do mercado farmacêutico total, que apresentou aumento de 6,4%, em volume, de janeiro a junho de 2008, totalizando vendas de 789,4 milhões de unidades ante os 741,9 milhões obtidos em igual período de 2007. Em valores, o avanço foi de 32,9% no período, passando de US$ 5,5 bilhões em 2007 para US$ 7,4 bilhões em 2008. Para Finotti, os genéricos permitiram o acesso de mais pessoas aos tratamentos. Além disso, ainda garantiu o tratamento integral àqueles que o faziam só parcialmente. "Hoje muitos brasileiros estão se tratando melhor, graças aos genéricos", diz. A força dos genéricos também impulsionou as empresas do setor. Hoje, dos seis maiores laboratórios existentes no Brasil, quatro são brasileiros e produzem genéricos. Muitas delas já estão inclusive se internacionalizando e investindo em inovação, como a EMS que comprou laboratórios na Itália e Espanha e se instalou em Portugal. Caminho também seguido pela Eurofarma. Finotti afirma que isso deve aumentar porque, pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo irá ampliar sua campanha junto a 110 mil médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) e as cerca de 55 mil farmácias ligadas ao sistema. "Em vários países, o governo é o principal impulsionador do negócio genérico e esperamos que isso também ocorra aqui", diz o representante da indústria, lembrando que os genéricos muitas vezes não entram nas compras de órgãos públicos uma vez que as licitações exigem apenas preço menor. "Com todo os critérios e testes de bioequivalência que somos obrigados a fazer, não conseguimos ter o menor preço e saímos perdendo nas compras públicas". Mas esse não é o principal empecilho no caminho dos genéricos, de acordo com o vice-presidente da entidade. Aquilo que ele chama de "judicialização do pipeline" pode ser mais importante. Isso porque muitos laboratórios inovadores, que detém as patentes de medicamentos importantes e que, por lei, estão próximas do vencimento, reivindicam na justiça uma extensão das patentes no Brasil. Isso ocorre porque a Lei de Patentes brasileira, de 1996, passou a aceitar pedidos de patentes para substâncias que ainda não estivessem em outros mercados. Algumas foram registradas aqui antes de ser feita lá fora, de acordo com a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). "Por isso, o que se pede, apenas em alguns casos, é a harmonização de prazos", diz o presidente da Interfarma, Gabriel Tannus. Segundo ele, não se trata de uma batalha jurídica e sim de uma acomodação de um mercado novo.