Título: Trânsito, transporte e saúde são prioridades
Autor: D'Angelo, Marcello
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/09/2008, Política, p. A10

4 de Setembro de 2008 - Trânsito e saúde. Com foco nesses dois pontos, a candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, diz acreditar que será possível mostrar resultados já nos primeiros seis meses de seu governo, caso eleita. Destacando o fato de a situação econômica do País estar bem melhor hoje de quando perdeu a reeleição, em 2004, tal qual a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-ministra do Turismo está confortável nesse cenário, embora reconheça que essa ajuda não será suficiente para uma vitória no primeiro turno. Líder nas pesquisas de intenção de voto com pouco menos de 40%, assiste à disputa entre o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), segundo colocado, e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) para saber quem será o seu adversário. Até lá, prefere não fazer apostas. Terceira participante da série Eleições 2008 - Encontro com a Redação da Gazeta Mercantil, Marta discorreu sobre planos que incluem, além de propostas para o trânsito e a saúde, estudos sobre desoneração, expansão do Ibirapuera e atração de investimentos, em especial para tecnologia de ponta e qualificação. E fez um desabafo: "Prefeito, governador, presidente deveriam ter direito a férias!". Trânsito e transporte público O trânsito tem solução. Já tivemos situação pior, quando eu peguei a prefeitura e tive de tirar oito mil clandestinos da cidade, fazer as novas concessões de ônibus e chegar ao bilhete único. Nós temos propostas de curto, médio e longo prazo que têm de ser tomadas todas no primeiro dia. No curto prazo: CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e SPTrans (São Paulo Transportes). Se pára um carro na marginal, se você não tem lá um marronzinho e um guincho, em poucos minutos você tem um congestionamento de quilômetros. E os corredores de ônibus? Eles não dependem dos carros para funcionar, porque pararam? Faziam 20km/h, 30km/h, agora fazem 9, 10 km/h. Porque foi permitida a entrada de ônibus intermunicipais e os radares estão praticamente quebrados, então você não controla e não fiscaliza mais os corredores. Então primeira coisa são investimentos em pessoal e equipamentos. Tem pequenas obras viárias que se implementadas podemos melhorar o fluxo em seis meses. Para o médio prazo, temos a perspectivas de construir mais 220 quilômetros de corredor de ônibus, o que demora de um ano e meio, dois anos. Metrô O metrô, que também será uma prioridade. Nós conversamos com o presidente Lula e com a ministra Dilma (Roussef) para a construção de um plano de mobilidade urbana para a cidade, que colocaria, por ano, R$ 490 milhões, o governo federal a mesma quantia e o estado de São Paulo, R$ 980 milhões, porque o estado é o dono do metrô, a prefeitura não é responsável pelo metrô. Dívidas Quando o Kassab assumiu era outra a situação. A recessão já estava terminando. Eu peguei os dois últimos anos do Fernando Henrique e os dois primeiros do Lula, foi muito duro. A cidade começou a pagar a dívida, que foi negociada entre o Celso Pitta e o Fernando Henrique Cardoso, no primeiro ano do meu governo, 13% do orçamento. Ainda teve um passa-moleque no meio, de pagar parte do capital da dívida e se não pagasse os juros, que eram de 6%, passava para 9%. O Kassab pegou uma situação melhor, tanto é que começou a ter superávit todos os anos, apesar de dizer que a prefeitura estava falida. Mas para levar a cabo a proposta de financiamento do metrô é preciso primeiro ganhar a eleição. É uma proposta que eu levei ao presidente, que concordou. Vai ter um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento|) de mobilidade urbana para São Paulo, como prioridade, só que esse PAC não está no orçamento da União, vai ser negociado após as eleições. Agora, durante a campanha, o governo do estado não tem porque se manifestar, mas para ele é muito interessante. Impostos Uma cidade do tamanho de São Paulo é diretamente impactada pela situação econômica do País. Hoje o orçamento é R$ 10 bilhões a mais do que eu tive, em valores reais. Em relação aos tributos, acho que poderemos desonerar por causa da situação que a cidade vive hoje. Temos uma equipe estudando e uma proposta já saiu, a eliminação do ISS para autonômos. São R$ 30 milhões o impacto, para a cidade é pouco. Estamos estudando outras, mas ainda não podemos nos comprometer. E vamos voltar a isenção do IPTU para um milhão de residências, hoje são 800 mil. Hoje estamos numa situação diferente e há a minha vontade de fazer as desonerações. Orçamento R$ 25 bilhões não é suficiente para São Paulo, mas é mais do que eu tive. Mas a cidade pode ter mais, porque tem aproveitado muito mal os recursos federais. Eu vou usar muito essas verbas. Uma característica da atual prefeitura é aplicar o dinheiro, agora eles têm R$ 4 bilhões aplicados, inclusive parte desses recursos. Atração de investimentos O setor mais importante para a atração de investimentos é o de tecnologia de ponta. São Paulo vive um momento pós-industrial, de serviços, isso é importante, mas eu não vou abdicar disso não. São Paulo é a locomotiva do Brasil e se é o país emergente que mais investe, temos que qualificar. São Paulo não está cumprindo o seu papel de ser a cidade do conhecimento e essa é a busca que eu vou fazer. Parceria com universidades, investimentos em instituto de pesquisas, atração de capital de alta tecnologia com todas as intenções que você possa imaginar. Temos também de qualificar. O perfil da cidade mudou, antes era de assalariados, hoje são de jovens que precisam de ajuda para fazer o seu empreendedorismo. Os CEUs à noite são ociosos, poderão ser usados para cursos de capacitação. Quando fui prefeita fiz uma parceria com a iniciativa privada de um projeto de desenvolvimento econômico para a Zona Leste, de US$ 1 milhão. Foi avaliado que teriam de ser feitas três intervenções, todas aos mesmo tempo: viária, qualificação de mão de obra e atividades econômicas que poderiam dar certo na região, desde primárias à tecnologia de ponta. Teríamos que captar empresas e fazer projetos de desoneração. Passamos tudo na Câmara, mas não pudemos implementar. Eles destacaram a importância de levar o emprego para onde as pessoas estão. Prioridade empresarial A pedido da Gazeta Mercantil, representantes de diversos setores da economia paulistana fizeram perguntas aos candidatosEm resposta ao presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti, digo que a minha prioridade maior é o trânsito. Mas para as pessoas mais pobres, é a saúde. Três, seis, dez meses para uma consulta. E temos os outros problemas, mas trânsito e saúde são prioridades. Vou municipalizar a saúde. Para a população mais carente o trânsito é importante, mas não é vital, não implica em risco de vida. O mais importante é fazer um sistema de saúde e para isso é preciso informatizar tudo. Saúde não tem resultados rápidos, o importante é que haja continuidade. Quanto a questões que envolvem tributos, como IPTU, ISS, levantada tanto pelo presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun, e da Associação Brasileira de Agências de Publicidade, Dalton Pastore, entre outros, nossa proposta tem base na racionalização dos tributos, visando melhorar as condições para estimular o empreendedorismo na cidade. Benefícios fiscais serão estudados, levando em consideração a capacidade de retorno social: mais empregos e maiores salários. O comércio em geral é um dos setores que mais empregam. Nesse sentido, os investimentos em novos shoppings também serão considerados. Também vamos rever a política de impostos do município, como forma de reverter o processo de saída de empresas da cidade. Em nossa gestão, criamos o programa de desenvolvimento da Zona Leste, para impulsionar a economia local. Iremos retomá-lo e criaremos programas semelhantes para as Norte e Sul, sempre baseados no tripé incentivos fiscais; requalificação do espaço urbano, por meio de operações urbanas; e qualificação profissional. Meio Ambiente Inspeção veicular tem que continuar, o maior poluidor é o carro. Temos que continuar os investimentos em parques. E tem uma idéia, que vai precisar de dinheiro, não é prioridade, mas vai mudar a cara de São Paulo: recuperar a área em frente ao parque, que antes era do Ibirapuera .Talvez a gente possa arrumar um financiamento internacional a perder de vista para essa obra. Iluminação Eu comecei o programa Reluz, foi muito difícil aprovar isso no Senado. Estava caminhando bem com o Serra, mas o Kassab teve cortado esse recurso, porque ele não pagou. Estão tentando tirar o programa do orçamento, o que não é ruim. O Reluz é vital para a cidade, não só por segurança, mas também pela beleza. Estrutura de administração É preciso estudar o que fazer com as subprefeituras. Eu não sou a favor do Estado mínimo, acho que tem de ter gente para trabalhar Eu talvez eu reformule a de Assistência Social e a do Trabalho, os programas de redistribuição de renda têm que continuar. Mas talvez eu crie uma secretaria de gestão metropolitana, esse é o grande desafio que temos que enfrentar, nós não podemos nos omitir, a região tem 39 municípios. Nós colocamos lixo em Caieiras, usamos água de Mairiporã, temos que cuidar disso. É preciso dar esse salto. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Marcello D¿Angelo, Ana Maria Géia e Sandra Nascimento)