Título: Países emergentes aumentam investimentos no exterior
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Fonte: Gazeta Mercantil, 14/08/2008, Internacional, p. A11

São Paulo, 14 de Agosto de 2008 - O surgimento, na última década, de novas multinacionais no Brasil, Índia, China, Espanha, África do Sul e México, transformou países tradicionalmente receptores de capital estrangeiro em importantes investidores no exterior. Estudo divulgado ontem pela Revista da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) revela que, em 2007, a América Latina registrou o ingresso de US$ 100 bilhões de investimento estrangeiro direto (IED), o volume mais alto da história. Ao mesmo tempo, países como o Brasil e o México viveram um auge de suas próprias correntes de investimento direto no exterior, que em alguns casos superaram as entradas de capital estrangeiro. O avanço de multinacionais latino-americanas que competem com os maiores conglomerados dos países desenvolvidos quanto ao seu poderio fabril e financeiro é o tema do artigo "A emergência das multilatinas" escrito por Javier Santiso, diretor e economista-chefe do Centro de Desenvolvimento da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico. (OCDE), e publicado na Revista da Cepal n 95. As multinacionais de países emergentes ainda são relativamente pequenas se comparadas com seus pares da OCDE, e têm um alcance geográfico limitado, mas já somam a quarta parte do total de multinacionais importantes do mundo, conforme dados das Nações Unidas. Movimento Sul-Sul Santiso destaca no artigo também uma tendência importante: a crescente ligação Sul-Sul. As companhias chinesas estão investindo na Ásia, mas agora também na África do Sul e em outros países africanos. A América Latina não está apenas na mira das empresas chinesas, mas também interessa às indianas. Em outras palavras, a ligação entre a América Latina e Ásia poderá ser a tendência mais promissora deste século e ilustrar uma das maiores mudanças pela qual atravessa a economia mundial: o que estamos acostumados a chamar de centro (os países da OCDE) é cada vez menos o centro do comércio e capital mundiais, enquanto a periferia (os países emergente) é cada vez menos periferia. Em outras palavras, está cada vez complicado definir a fronteira entre países ricos e pobres. Multilatinas avançam A presença de empresas de economias emergentes nos rankings globais aumenta junto com seus investimentos no exterior, informa Santiso. Em 1990, somente umas poucas e felizes multinacionais emergentes de países em desenvolvimento figuravam entre as do ranking Fortune 500; e em 2005, já eram 47, diz ele. O aumento substancial das atividades das multilatinas também está registrando na lista Forbes 2000, das 2 mil empresas mais importantes do mundo, que inclui 30 da Espanha e cerca de 20 do México e Brasil. (ver tabela) As maiores multilatinas emergentes são as mexicanas e brasileiras: 85 das 100 companhias mais importantes da região e 35 das 50 mais lucrativas estão sediadas nestes dois países. Se os países emergentes da Ásia dominam este fenômeno de investimentos no exterior (em 2005 eram responsáveis por mais de 60% do fluxo de IED nas economias emergentes), a América Latina também se mostra dinâmica. Segundo dados da Cepal, em 2007 o investimento direto do Brasil no exterior alcançou cerca de US$ 35 bilhões e o do México quase US$ 24 bilhões. Assim, em 2006, o investimento estrangeiro direto de multinacionais latino-americanas alcançou um recorde de quase US$ 42 bilhões (o dobro de 2005 e 2007). Santiso escreve no artigo que em 2005, de acordo com dados da Conferência de Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas (Unctad), o investimento de países emergentes no exterior chegou a US$ 133 bilhões, ou seja, 17% das correntes mundiais para o exterior. No ano seguinte, o fluxo de IED (incluídas fusões e aquisições), das economias em desenvolvimento alcançaram US$ 174 bilhões, 14% do total mundial, o que significou para esses países uma participação de 13% (por valor de US$ 1,6 bilhão) no acervo mundial IED. "Colocando essas cifras no contexto, diremos que, em 1990, as economias emergentes representavam 8% do acervo total e 5% das correntes desse tipo de investimento", escreve o economista da OCDE. Em sua análise, o autor enfatiza o surgimento de multinacionais latinas de nível mundial do México, Brasil e, especialmente, da Espanha. Define estas empresas como aquelas companhias de países latinos da Europa ou da América que registraram um enorme crescimento e internacionalização. Ele aponta que a expansão das empresas espanholas - primeiro na Europa e depois na América Latina - recebeu impulso de fatores como a integração européia e a privatização e desregulamentação do setor de serviços na América Latina. No entanto, as causas que hoje explicam a internacionalização das empresas latino-americanas e de suas contrapartes asiáticas são a necessidade de superar os limites dos mercados internos e a dinâmica do mercado de recursos naturais para os exportadores. As multinacionais espanholas são as primeiras multilatinas, segundo Santiso, uma vez que a América Latina se converteu no principal mercado emergente para as grandes empresas da Espanha e agora este país é o maior investidor estrangeiro na região, superando os Estados Unidos. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Redação)