Título: Atraso na colheita do café indica produção menor que a esperada
Autor: Tenório, (Roberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/08/2008, Agronegócio, p. C10

São Paulo, 14 de Agosto de 2008 - A persistência no atraso da colheita de café deste ano já começou a despertar preocupação de algumas cooperativas, que informaram à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sobre a grande possibilidade de uma quebra na produção. Estima-se que o atraso seja superior a 30 dias em algumas regiões e que a incidência de chuvas nas últimas semanas tenha favorecido o início da florada em cafezais onde os frutos não foram colhidos totalmente, podendo prejudicar a safra de 2009/10. Para este ano, a Conab estima uma safra de 45,5 milhões de sacas, número 7% maior que a de 2006, período que a produtividade foi a igual a deste ano. As perdas são consideradas como certas para Francisco Miranda de Figueiredo Filho, presidente da Cocatrel, que atua em Três Pontas, sul de Minas Gerais. O representante disse que o volume de café depositado na cooperativa é bem menor que nos anos anteriores, mas não soube precisar quanto. Ele revelou que a região já possui 30% da safra colhida. "Não é só em Três Pontas que temos problemas. Por onde passo os produtores dizem que a produção está ruim", afirmou. A Conab estima que a região Sul e a Centro-Oeste do estado produzirão 12 milhões de sacas. A mesma situação é percebida no Cerrado mineiro, e em algumas regiões de São Paulo, onde a Cooxupé atua. Joaquim Goulart de Andrade, gerente de desenvolvimeto técnico da cooperativa, disse que o volume de café em agosto está 14% menor na comparação com 2006. A meta é que sejam recebidos 5 milhões de sacas até o final deste ano. "Os grãos que foram colhidos em baixa altitude estão com um volume muito pequeno e com muita casca. Já encaminhamos a situação para a Conab e vamos estudar se o problema é uma quebra ou um atraso mesmo", explica. Segundo Andrade, para encher uma saca de café beneficiado (60 quilos) são necessários 380 litros de grãos normalmente. Na atual situação, os produtores usam 500 litros do grão para obter a mesma saca. "Em lavouras acima dos mil metros de altitude a situação é normal", disse. A situação é mais crítica na região da Alta Mogiana, onde a quebra da safra subiu mais 10% além do que havia sido previsto. De acordo com a Cocapec, já foram recebidos 60% de um total de 1,58 milhões de sacas esperadas. "A quebra inicial que tínhamos informado à Conab era de 20%, mas esse número já alcança a casa dos 30%", avalia Roberto Maegawa, encarregado técnico e engenheiro agrônomo da Cocapec. Disse ainda que o risco de a nova florada surgir antes que a colheita dos frutos termine é grande. Na Cooparaíso, que atua em 30 municípios ao Sul de Minas e 7 na região de Mogiana paulista, 55% de um total de 3,15 milhões de sacas previstos foram colhidos. "Esse número deveria estar na casa dos 65%, pore´m o atraso de 30 dias diminuiu o volume recebido", explica Marcelo de Moura Almeida, coordenador técnico do departamento de gestão de agronegócio. Para ele, a situação é preocupante na região e a mistura da florada com a colheita já é percebida em várias regiões, que já colhem frutos menores que os normais. Reginaldo Rezende, analista da FCStone, acredita em preços altos para a commodity até o final do ano. "Não acredito que fique abaixo dos 133 centavos de dólar por libra peso. A oferta e a demanda estão apertadas", afirmou. Atualmente o consumo interno está em 16 milhões de sacas e as exportações são de 28 milhões de sacas. "Só isso já corresponde a safra deste ano. Para 2010, a estimativa é que o consumo interno suba para 20 milhões de sacas", diz. O estoque da Conab é de 10,3 milhões de sacas. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 10)(Roberto Tenório)