Título: Potencial econômico mantém ânimo de analistas externos
Autor: Freitas Jr, Osmar
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/09/2008, Nacional, p. A4

Nova York, 8 de Setembro de 2008 - O óleo que sujou as mãos do presidente Lula, no último dia 2, saiu barato. Comparado, é claro, com o preço do petróleo na Bolsa de Nova York nos últimos quatro meses. O barril seria cotado naquele dia a "meros" US$105. Ao mesmo tempo que isso acontecia, o dólar subia 1,15% no mercado brasileiro ( para R$ 1,665), a Bovespa tinha pregão em queda (com depreciação no ano de 14,84%, naquele momento), e as commodities, principalmente metálicas, também entravam em baixa. Era de se esperar arrepios entre os analistas econômicos americanos. Mas isso não ocor-reu. O entusiasmo com o Brasil seguiu com intensidade mais apropriada às torcidas organizadas. No Brasil, o ânimo dos consultores econômicos é grande e cercado pela ansiedade a respeito das descobertas e possbilidades vindas do pré-sal. "A Bovespa é mais dependente de companhias de commodities. Qualquer alteração nos preços causa tremores", diz Nicholas Norse, chefe de equities do banco britânico de investimentos Schrodes. "Mesmo assim, a Bovespa está com índice 10% maior do que no mesmo período do ano passado. Apesar das perdas deste ano que, lembre-se, tem sido um ano de crise dura", diz. O otimismo em relação ao Brasil pode ser medido pelos níveis de investimentos. No começo de agosto, a instituição financeira Lehman Brothers anunciou a contratação da equipe de profissionais do grupo brasileiro Rio Bravo. "A contratação do time do banco de investimentos Rio Bravo ressalta nosso compromisso de expansão e reforça nossa capacidade no Brasil. É também prova de nossa confiança na economia brasileira", diz Joseph Gatto, chefe da divisão de finanças corporativas globais do Lehman. O Citicorp, por exemplo, tem enxugado ao máximo suas operações, inclusive encolhendo bastante a atuação no setor de cartões de crédito devido ao baque sofrido com a crise hipotecária americana. Mesmo assim, também está reforçando sua estrutura no mercado brasileiro. "A China continuará sendo fator crítico para a expansão dos países emergentes. Vai seguir exigindo fluxo de commodities para acomodar sua economia", diz Joyce Chang, diretora-gerente do grupo de pesquisas de mercados emergentes do banco J.P.Morgan/Chase. "Acreditamos que o PNB da China deverá desacelerar apenas modestamente, devido à recessão nos Estados Unidos. Mas mesmo que o crescimento chinês caia para níveis de dois dígitos baixos, ou um dígito alto, como aquele visto em 2001, o governo de Pequim irá reagir com duras medidas fiscais. As necessidades para a produção vão manter as necessidades de commodities", afirma Joyce Chang. Para os analistas do J.P.Morgan/Chase, a elevação do câmbio servirá para aumentar as exportações, tanto das chamadas soft commodities ¿ soja, café, açúcar, etc.¿ como de manufaturados. "Note que a produção industrial cresceu acima do previsto em julho", diz Howard Moreau, analista do Citicorp. "O setor deve sofrer os efeitos do aumento das taxas de juros, que já ocorreram e ainda devem aumentar mais na semana próxima. No entanto, estes dados da indústria são indicativos do explosivo potencial da economia brasileira. Uma das alavancas para o crescimento verificado neste período se deve ao setor de construção civil. Além, é claro, da alta de captação de investimentos. O câmbio vai ajudar na expansão da indústria. Veja o pequeno crescimento, 0,3%, que os Estados Unidos tiveram com a baixa de sua moeda e aumento das exportações", diz Moreau. Os países emergentes estão cada vez menos dependentes de países industrializados e os mercados domésticos são os grandes motores do crescimento de China, Rússia, Índia e do Brasil. O crescimento da classe média brasileira nos últimos anos reforça a teoria do descasamento do País diante das nações industrializadas tradicionais. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Osmar Freitas Jr)