Título: Exportações podem chegar a US$ 200 bilhões
Autor: Americano, Ana Cecilia
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/09/2008, Nacional, p. A4
Rio de Janeiro, 5 de Setembro de 2008 - A vulnerabilidade externa do Brasil será tanto menor quanto maior for sua poupança interna. E quanto maior for a capacidade de expandir a sua participação nas exportações mundiais, também menor será sua fragilidade. Já para garantir equilíbrio nas transações correntes, o País precisaria garantir uma produção que atendesse não só à crescente demanda interna, como, ainda, ao crescimento das exportações. Por fim, a pauta das exportações deveria se diversificar com produtos de maior valor agregado, os manufaturados, que atualmente não representam nem 50% da pauta de embarques. Esses foram alguns dos tópicos discutidos ontem, ao longo do II Painel do Fórum Especial "Como ser o melhor dos BRICs", que foi promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (INAE), e se realizou na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro. A depender do ritmo do aumento das vendas de produtos brasileiros a outros países, o Brasil estará no rumo certo. Miguel Jorge, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, afirmou durante o evento que o governo já está revendo a meta de exportações para este ano de US$ 190 bilhões para algo mais próximo de US$ 200 bilhões. Segundo o ministro, o novo objetivo deverá ser anunciado nos próximos dias. O ritmo forte do crescimento das vendas, que tem vindo acima de 20%, seria o motivo para a reavaliação. "Chegaremos à meta prevista para 2010 muito antes do que esperávamos", afirmou Jorge. O ministro também afirmou que deverá anunciar na próxima semana, em companhia do ministro Guido Mantega, da Fazenda, a volta do regime chamado draw-back Verde Amarelo. "Isso significa que o exportador brasileiro de uma máquina não pagará nem IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) nem PIS (Programa de Integração Social) em um insumo ou num componente que ele comprar no mercado interno para colocar num produto manufaturado para exportação", explicou. Exportando poupança Jorge chegou preparado para ouvir as críticas ao crescente déficit em transações correntes. Em valores de março, ele bateu nos 0,6% do PIB. "Este é um fato novo que tem suscitado preocupações", admite. Mas o cenário, garantiu, é muito mais confortável que em outros momentos, como em 2001, quando o déficit em transações correntes esteve em 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB). "Os investimentos diretos cresceram e a economia brasileira mudou de patamar", argumentou. O ministro citou a relação entre dívida externa e exportações brasileiras. "Em 2008, com um ano de cinco meses de exportações é possível pagar o total da dívida externa; no passado seriam necessários cinco anos". Também para o pagamento de juros, em 2000, eram necessários 40% das reservas nacionais; atualmente é necessário pouco mais de 1%. Segundo Jorge, é preciso tornar a indústria brasileira mais competitiva para afastar de vez o perigo de que questões externas prejudiquem o crescimento da economia. O ministro ressaltou sua preocupação com o aumento do volume de exportações e também com a ampliação da participação de médias e pequenas empresas brasileiras no exterior. Isso porque, com a contínua valorização do real frente ao dólar nos últimos anos, grande parte das exportadoras de médio e pequeno porte saíram desse mercado. Para Fernando Ribeiro, técnico da Funcex, a única forma de se evitar uma deterioração contínua do saldo em transações correntes é fazer com que as exportações voltem a crescer a um ritmo elevado, tendo em vista as perspectivas de crescimento das importações e do aumento do déficit da balança de serviços. Para Benedicto Fonseca Moreira, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), há uma vulnerabilidade estrutural e endêmica a ser equacionada no País. Segundo Moreira, o Brasil possui um mercado de 200 milhões de pessoas com um nível de renda muito baixo. "É uma população demandante de consumo. Qualquer movimento de renda se transforma em consumo. E com isso, não temos poupança", colocou. Para o dirigente, é crítico ao país adotar uma política agressiva de produção, que dê conta tanto da demanda reprimida quanto das necessidades de exportação. "Estamos falando de uma política de maxi oferta". Moreira cobrou de Jorge uma ampliação da produção qualificada e diversificada. "Uma política de agregação de valor às commodities brasileiras é tão óbvia quanto antiga", alegou. O dirigente pediu ainda, uma política exportadora eficiente, com uma logística adequada; uma política aduaneira não tarifária; uma inteligência negocial; e menores custos internos. "Hoje somos competitivos em nossas fábricas, não o somos em preços FOB", disse ele, criticando as deficiências de logística e excesso de burocracia em todo o processo de exportação. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ana Cecilia Americano)