Título: Metalúrgicos mantêm pressão por reajustes
Autor: Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/09/2008, Nacional, p. A6

5 de Setembro de 2008 - O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, afirmou ontem que as negociações com os metalúrgicos não podem ser conduzidas considerando-se apenas o atual bom momento da indústria automobilística. "Pensamos a longo prazo e não apenas no atual momento da indústria", afirmou ele. "Levamos em conta também as condições competitivas da indústria no cenário internacional e nos impactos de qualquer aumento de custo." Em campanha salarial em vários estados onde há produção de veículos, metalúrgicos reivindicam reajuste de 18,5%, enquanto as montadoras ofereceram em médias 1,25% de aumento real sobre os salários. Os sindicalistas querem promover greve "pipoca" em que cada empresa pararia por um determinado período. Os locais da paralisação não serão informados como forma de pegar os fabricantes de surpresa. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, afirmou que as montadoras têm que melhorar a proposta de reajuste por estarem registrando altos lucros com a disparada de vendas de veículos. "Vivemos um momento econômico ainda melhor que em 2007. Não é possível que as empresas não queiram remunerar melhor os funcionários que contribuem para o crescimento das vendas e dos lucros." Trabalhadores da Volkswagen, Ford e Scania (todas em São Bernardo do Campo) paralisaram as atividades por duas horas ontem e decidiram suspender a produção no sábado. Mais de 150 veículos (caminhões e ônibus) deixaram o de ser produzidos ontem na Mercedes-Benz de São Bernardo. Os 3 mil trabalhadores do turno da tarde da montadora decidiram ontem, em assembléia, não entrar na fábrica. Paraná Em assembléia realizada ontem pela manhã os cerca de 9 mil metalúrgicos da Volkswagen, Renault e Nissan rejeitaram a nova proposta das empresas, apresentada na noite de ontem, e decidiram permanecer com a greve iniciada na última segunda-feira, dia 1º. As montadoras ofereceram aos trabalhadores 10% de reajuste total, composto de 2,5% de aumento real, a correção integral da inflação acumulada nos últimos doze meses (estimada pelo Dieese em 7,6%) e um abono de R$ 1,5 mil a ser pago em 10 de setembro. Pela proposta patronal, esse índice seria aplicado a partir de novembro (Volks) e dezembro (Renault). Os 3 mil funcionários da Volvo do Brasil, por sua vez, decidiram não aderir ao movimento, aceitando uma proposta negociada diretamente com a empresa. Com a reprovação da proposta por parte de empregados de duas montadoras, a paralisação entra hoje em seu quarto dia. Nesse período, a Volks já deixou de produzir cerca de 3,4 mil veículos. Na Renault, a queda na produção chega a aproximadamente 3,2 mil automóveis. A categoria reivindica 5% de aumento real e a reposição integral da inflação para serem aplicados já em setembro, além de um abono de R$ 1,5 mil também para setembro. Hoje o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) realiza novas assembléias às 5h30m e 14h40m na Volks e Renault para definir os rumos do movimento. Se até lá a proposta não for melhorada, a tendência é de que a paralisação siga por tempo indeterminado. Ainda na manhã desta quinta-feira, os funcionários da Volvo se reuniram com representantes da empresa para avaliar uma nova proposta de reajuste salarial e aceitaram o acordo. Às 9h15, um diretor de recursos humanos subiu num caminhão de som de megafone em punho e fez a proposta, aceita pelos trabalhadores, que prevê reajuste total de 10% e o pagamento do abono de 1,5 mil integralmente já no mês de setembro. Distribuição da produção O atual quadro da produção de veículos no País mostra que São Paulo perdeu peso na indústria automobilística, mas ainda é de longe o principal pólo. Em 2007, para uma produção de 2,98 milhões de veículos, o estado concentrava 43,7% da produção nacional. Minas Gerais vem em seguida, com 24,6% da produção de veículos automotores. O Paraná detém 10,9 % e a Bahia ¿ 7,6%. O Rio Grande do Sul aparece com 6,8% da produção, acompanhado do Rio de Janeiro, 5,6%, e Goiás, com 0,9%. Em 1990, para um volume de 915 mil veículos, São Paulo detinha 74,8% da produção nacional. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Norberto Staviski e Wagner Oliveira)