Título: Alta da inflação limita recuperação de perdas
Autor: Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/09/2008, Nacional, p. A6

São Paulo, 5 de Setembro de 2008 - Com a inflação em patamares mais elevados neste ano, uma parcela menor de categorias conseguiu repor as perdas salariais decorrentes do aumento de preços. De 309 negociações salariais realizadas no primeiro semestre de 2008, 85,8% garantiram no mínimo a recomposição da inflação. O percentual é o terceiro maior para o período da série histórica do levantamento iniciada em 1996 pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mas está abaixo dos 96,6% registrados entre janeiro e junho de 2007 e do apurado em 2006 (96,5%). "O percentual de categorias foi reduzido, mas não representa uma queda expressiva. Isso se justifica mais pela mudança no patamar da inflação neste ano", afirma José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese. No acumulado de 12 meses até julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como base nas negociações salariais, registrou alta de 7,56%. A inflação mais elevada também impactou na proporção de categorias com aumentos salariais mais expressivos acima do INPC. Do total de categorias pesquisadas pelo Dieese no primeiro semestre de 2008, 73,5% obtiveram ganhos reais ante 87,1% apurados no mesmo período do ano passado. "A concentração está na faixa de 0,01% e 1,5% acima do INPC. É um ganho relativamente pequeno", afirma Silvestre. No período, apenas uma categoria, o que representa 0,3% do total, conquistou ganho superior a 4,01%. No primeiro semestre de 2007, esse percentual foi de 3%, que correspondiam a 15 negociações. Para 14% das categorias, os reajustes foram insuficientes para recompor as perdas com a inflação. O coordenador do Dieese pondera que entre as negociações que não conseguiram zerar o INPC as perdas foram pequenas. Cerca de 60% delas foram até 0,5% inferiores ao índice e 90% entre 0,51% e 1% abaixo. Sem pressão inflacionária Para Silvestre, os dados do balanço de negociação salarial no primeiro semestre reforçam o argumento das entidades sindicais de que os aumentos salariais não são foco de pressão inflacionária. "Os salários estão crescendo abaixo da produtividade. Todos os ganhos estão abaixo do crescimento do PIB. Os índices de preços já apontam queda nas taxas", enumera. "Os indicadores não autorizam a tese de que há inflação de demanda e que os salários estão pressionando os custos das empresas. Há espaço para o aumento real do salário", afirma. Na avaliação de Silvestre, as negociações do segundo semestre devem manter a mesma tendência da primeira etapa do ano. "O efeito da elevação da taxa de juros na economia deve ser sentido em 2009. Em 2008, a economia deve crescer dentro do previsto, cerca de 5%. Não creio em mudanças, até porque há categorias mais organizadas com data base no segundo semestre", diz o coordenador. Negociação dos bancários Entre essas categorias estão os bancários e metalúrgicos, que já iniciaram as campanhas salariais. O secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), Carlos Cordeiro, prevê negociações mais difíceis neste ano com a inflação em patamares mais elevados. "Não podemos aceitar reajustes inferiores à inflação, por causa desse repique inflacionário. Se não tivermos aumento real, vamos fazer greve. Essa é a orientação para as categorias da CUT", afirma o representante sindical. A categoria reivindica aumento de 13,23%, o que representa ganho real de 5%. As negociações salariais com os bancos estão marcadas para os próximos dias 16 e 21. Em 23 de setembro, os bancários se reúnem em plenária. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Ana Carolina Saito)