Título: Estrangeiros mantêm visão positiva para o Brasil
Autor: Carvalho, Jiane ; Pinheiro, Vinícius
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/09/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 5 de Setembro de 2008 - Apesar da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acumular uma queda de 19,53% no ano, os gestores de fundos de investimento estrangeiro ainda mantêm uma perspectiva positiva para o mercado de ações brasileiro. Para o gestor do fundo América Latina da BlackRock, Willian Landers, o Brasil está no topo da lista dos mercados emergentes, com os preços dos ativos ainda baratos e grande potencial de crescimento da economia interna. "Com a queda no mercado acionário nos últimos meses, os ativos brasileiros ficaram muito baratos, com um P/L (relação do preço da ação sobre o lucro) projetado para 2009, de cerca de 8 vezes, podendo-se encontrar papéis como o da Petrobras sendo negociados com desconto", disse Landers, durante o evento FundForum América Latina, realizado ontem pelo IBC. A gestora, com sede em Nova York, tem cerca de US$ 6 bilhões investidos nos mercados da América Latina, por meio de quatro fundos, sendo US$ 4 bilhões desse montante alocados em ações brasileiras. A BlackRock também tem um fundo global para mercados emergentes, de cerca de US$ 2 bilhões, do qual os investimentos no Brasil respondem por cerca de 20% da carteira. No total, a BlackRock possui cerca de US$ 1,428 trilhão sob gestão, segundo dados de 30 de junho, alocados em ações, renda fixa, investimentos alternativos e mercado imobiliário. Landers afirma que a gestora tem aumentado suas posições em ativos brasileiros, e acredita que embora estejam sofrendo com a queda do preço das commodities, os papéis de grandes companhias como Vale e Petrobras devem recuperar sua valorização no médio prazo. "Os investidores estrangeiros que estão voltando de seu período de férias no Hemisfério Norte, com certeza estarão olhando para os ativos brasileiros." Para ele, o preço das commodities metálicas deve continuar alto em 2009, o que deve beneficiar empresas como a Vale. "Dado o forte reajuste do preço do minério de ferro neste ano, esperamos um aumento forte também para os contratos do ano que vem", ressalta. O setor bancário, na avaliação de Landers, também continua bastante atrativo, com o forte crescimento do crédito e aumento dos spreads bancários. "Apesar de terem alcançado valor de mercado próximo de instituições financeiras de mercados desenvolvidos, os bancos brasileiros como Bradesco e Itaú têm ativos de boa qualidade e não foram afetados com a crise do subprime." Para o chefe de investimento da Inca Investments, Fernando X. Donayre, a bolsa brasileira não reflete a economia real, uma vez que é fortemente atrelada ao setor de commodities. A gestora, com sede em Miami, tem cerca de US$ 300 milhões sob gestão e investe em papéis de small caps, que têm baixa liquidez de negociação, nos mercados do Brasil, México, Chile, Colômbia e Panamá, por meio de um fundo voltado para a América Latina. Segundo Donayre, cerca de 33% desses recursos são destinados para ativos no Brasil. "No Brasil investimos em papéis como Randon, Marcopolo e Embraer."Donayre ressalta que grande parte da queda das ações small caps estava concentrada no setor de construção, no qual a gestora não mantém posição no País. "Investimos em ações desse setor no México e no Chile, mas no Brasil achamos que esse segmento ainda não é atrativo, uma vez que o crédito imobiliário é baixo, de apenas 2% do PIB." Para ele, falta no Brasil uma participação maior dos bancos privados na destinação de recursos para o crédito imobiliário. "No México, onde o crédito para o setor imobiliário alcança 9% do PIB, cerca de 3% são recursos de bancos privados e ¨6% do governo", afirma Donayre.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Silvia Rosa)