Título: Meirelles defende uso de metas de inflação
Autor: Góes, Ana Cristina
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/09/2008, Nacional, p. A7

São Paulo, 3 de Setembro de 2008 - O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, defendeu ontem o regime de metas de inflação no seminário comemorativo dos 40 anos da revista Veja, que aconteceu no hotel Unique, em São Paulo. Meirelles participou do painel "Economia - o novo papel do Brasil no mundo", que contou também com a presença do ex-presidente do BC Armínio Fraga, ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega e do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. "Pela primeira vez o Brasil está aproveitando os benefícios da estabilidade econômica e tem condições de enfrentar a crise internacional. Estamos num momento de ajuste, de acomodação, mas algumas coisas vieram para ficar, como o regime de metas de inflação", afirmou o presidente do BC. O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega compartilha do otimismo de Meirelles. "Estamos deixando para trás fatores que interferiam no crescimento, como a instabilidade política e econômica. O Brasil reduziu a sua vulnerabilidade externa", disse. Em relação ao alto déficit em conta corrente, Maílson minimiza a situação. "Em níveis prudentes, o alto déficit em conta corrente significa atrair uma maior poupança externa. Nosso déficit é financiável e relativamente pequeno", ponderou. Para o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, existem muitas oportunidades de crescimento e solidez para a economia brasileira. "Apesar da expectativa de desaceleração na economia mundial por um período de dois anos, o Brasil pode se beneficiar de várias oportunidades no segmento de commodities ofertando mercadorias para a Ásia", declarou. O ex-presidente do BC Armínio Fraga destoou do clima de otimismo. "Nós temos que procurar melhorar e não se deixar levar por um entusiasmo do mercado que, embora merecido, ainda não foi testado e confirmado", disse. "No entanto, temos que lembrar que não tivemos nosso crescimento interrompido pela crise econômica mundial, como aconteceu com vários outros países", ressaltou. "Não podemos esquecer que a educação e a infra-estrutura ainda carecem de investimentos e o governo não pode resolver esta questão sozinho", destacou. A questão dos gastos do governo foi mencionada no seminário. "A Constituição tornou muito difícil o corte nos gastos. Cerca de 90% dos gastos são de natureza obrigatória e a margem de manobra do setor público é baixa", disse Maílson. Já Coutinho se diz otimista em relação aos gastos do governo. "Concordo com a rigidez nos gastos, mas acredito que podemos melhorar por meio da composição das despesas, privilegiando os investimentos e não os gastos correntes", afirmou o presidente do BNDES. "Existe a necessidade de aumentar a poupança e o governo precisa empenhar esforços para conter os gastos", disse Coutinho. Para Fraga, a fragilidade do regime fiscal é visível. "É difícil o BC controlar a demanda com a expansão de crédito", destaca. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Ana Cristina Góes)