Título: Educação é gargalo da democracia brasileira
Autor: Oliveira, Regiane de
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/09/2008, Nacional, p. A7

São Paulo, 3 de Setembro de 2008 - "A sociedade tem que incorporar a educação como um valor tão importante quanto a democracia, até porque sem educação não há democracia". A afirmação do ministro da educação, Fernando Haddad, que participou do seminário "O Brasil que queremos ser", mostra uma realidade há muito tempo percebida pela classe dirigente do País: a falta de educação é principal gargalo da democracia brasileira. Para o economista José Alexandre Scheinkman, a elite intelectual brasileira amarga a culpa por não ter dado, a tempo, a importância necessária para a educação. "Já no século XIX a Argentina se preocupava com a educação", afirmou. A primeira universidade do país vizinho - Universidade de Córdoba -, foi inaugurada em 1622; enquanto no Brasil, a educação superior começou apenas após a chegada da corte portuguesa, em 1808, quando foram criados os primeiros cursos de ensino médico-cirúrgico em Salvador e no Rio de Janeiro. As primeiras universidades de fato só foram abertas no País no século XX. Para Scheinkman, hoje o Brasil paga o preço por esse atraso, que se deu em todos os níveis de ensino. Mas ele é otimista quanto aos rumos da educação. Ele afirmou que desde o final da década de 80, pode-se perceber uma política de continuidade nas metas governamentais. A estratégia é clara: buscar qualidade. Processo que, segundo Haddad, só pode acontecer com a valorização do magistério, boa gestão, avaliação sistemática e financiamento adequado. Esse trabalho já está sendo feito. "Desde o lançamento do Plano Nacional de Educação já conseguimos que 27 governadores e cerca de 5,3 mil prefeitos aderissem às diretrizes e metas nacionais de qualidade", afirmou Haddad. "Isso já é um elemento de mudança cultural", ressaltou. Haddad consegue ver essas mudanças na performance dos estudantes brasileiros na avaliações do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa): "Cerca de 50% de nossos estudantes têm um desempenho no Pisa igual aos estudantes de Israel; 70% têm desempenho igual aos estudantes chilenos; 30% igual aos alunos espanhóis; e 10% igual aos finlandeses." Para ele, o Brasil já tem tecnologia para educar, mas não para educar a todos com a mesma qualidade. "Nosso sistema ainda é muito desigual", afirmou. A secretária de educação do Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, acredita que o investimento na carreira do professor é um dos fatores principais para promover a igualdade do ensino. "Hoje nossas faculdades de pedagogia oferecem todo tipo de informação ao professor, menos como ensinar", afirmou. A crítica de Haddad vai além: "O estado não assumiu a tarefa de formar profissionais para o `chão de escola¿. O ministério fechou este ano 19 escolas de pedagogia sem condições de atuar", contou. Os problemas não ficam só na responsabilidade do estado. Gustavo Ioschpe, economista especializado em educação, insiste que há uma falta de demanda para melhoria da educação pública. "Uma reportagem feita pela Veja mostrou que a maioria dos pais está satisfeita com a educação de seus filhos", disse Ioschpe. Para Haddad, porém, a satisfação dos pais só mostra que o ensino que está sendo dado aos alunos já é melhor que a educação que eles tiveram no passado. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Regiane de Oliveira