Título: Genro defende Lacerda e espera colaboração da Abin
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/09/2008, Política, p. A8

Brasília, 3 de Setembro de 2008 - Mesmo considerando "correta" a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em afastar o alto comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o ministro da Justiça, Tarso Genro, saiu ontem em defesa do diretor-geral da agência, Paulo Lacerda, no day after da crise deflagrada pela suspeita de grampo no gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. "A visão que eu tenho do Paulo Lacerda é de um homem sério, que jamais tomaria uma atitude dessas", afirmou. Segundo Genro, o afastamento de Lacerda foi uma resposta política ao que classificou de "prenúncio de uma crise" entre Poderes. "Se o inquérito chegar à conclusão de que houve um ato individual clandestino, mesmo que seja um agente da Abin, evidentemente a responsabilidade dele está anulada, ninguém pode prever a conduta de outro indivíduo. Agora, se o grampo aconteceu por um mecanismo interno que determinou essa conduta, mesmo no caso do Paulo Lacerda desconhecer o fato, fica caracterizada sua responsabilidade política", avaliou Genro. A possibilidade de ligação do episódio do grampo com a Operação Satiagraha é uma das linhas possíveis na investigação conduzida pela PF. Nessa hipótese, que coloca na berlinda tanto a PF quanto a Abin, o ministro Gilmar Mendes teria sido grampeado por conta dos dois habeas corpus concedidos ao empresário Daniel Dantas, preso pela Polícia Federal na operação. O discurso adotado pelo governo, contudo, aponta para uma linha de investigação mais centrada na agência de inteligência. "Até agora, não há nenhuma denúncia, pública ou privada, que aponte a participação da PF. Se houver, será tratada com o mesmo nível de rigor", pondera Genro, questionado sobre as possibilidades de envolvimento de policiais federais. Na avaliação do ministro, a costumeira blindagem em relação a informações consideradas estratégicas pela agência não será obstáculo para o trabalho da PF. "A Abin não poderá sonegar informação documental ou não documental à Polícia Federal. Seria granjear proteção a quem cometeu um delito gravíssimo. Acho que a Abin vai colaborar, até porque quer tirar de sua testa a pecha de ter plantado uma escuta no presidente do STF", assegurou. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Karla Correia)